Os modelos meteorológicos estão prevendo chuvas para as próximas semanas, o que é um alívio para quem sofreu com a situação de seca no ano passado. De tal forma, surge a oportunidade de economizar na conta de água utilizando alguns dispositivos que captam e armazenam a água da chuva. Existem várias técnicas para coletar e armazenar a água da chuva e a aplicação de cada uma delas depende de fatores como custo, objetivo do uso, área disponível, dentre outros. Hoje nós vamos conhecer algumas dessas técnicas.
Antes de passar para as técnicas, vamos entender um pouco mais sobre a água da chuva (água pluvial). Primeiro, você deve eliminar da mente a ideia de que a água pluvial é potável por ter passado por um processo de evaporação. Quando as gotas de chuva descem, elas passam pelos poluentes presentes na atmosfera e chegam ao solo com o pH alterado e a presença de várias substâncias que encontra pelo caminho. A chuva ácida é um exemplo disso.
Se a água passa por telhados ou calhas, a qualidade pode ser pior ainda. Esses locais tendem a acumular sujeira (folhas, gravetos, fezes de animais e até os próprios animais mortos), tornando a água totalmente imprópria para o consumo humano. Então, para que serve a água pluvial?
A água pluvial pode ser armazenada para usos mais simples, como regar o jardim, lavar carros e pisos e usar como descarga em vasos sanitários. Caso a qualidade seja muito inadequada, ela pode receber tratamentos simples que permitam tais usos. Em todos os casos, a água pluvial não é indicada para ingestão, banho, lavagem de louças e atividades semelhantes. Cientes disso, já podemos conhecer algumas técnicas de coleta e armazenamento de água.
As cisternas utilizadas para armazenar água pluvial ganharam destaque nos últimos anos por meio do movimento denominado “Cisternas Já”, o qual objetiva capacitar a população sobre a captação e armazenamento dessa água. Consistem em dispositivos que permitem coletar e armazenar a água de chuva sem muita complicação.
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Pela imagem acima é possível perceber que uma mini cisterna, por exemplo, possui uma estrutura simples, a qual pode variar de acordo com as necessidades do projeto. É possível optar por construir a própria cisterna ou comprar a estrutura pronta. O custo de construir uma mini cisterna varia entre R$150,00 e R$300,00.
A água que vem do telhado passa, inicialmente, por um filtro para retirar as sujeiras. Na primeira chuva do período, a água lava o telhado, carregando as impurezas consigo e, por isso, é descartada. Há versões em que a tubulação da água suja é substituída por uma torneira, que fica aberta quando ocorre a primeira chuva. A água das demais chuvas é encaminhada para o reservatório. Há um extravasor para quando o reservatório enche.
É importante tomar alguns cuidados básicos. O primeiro deles é estar ciente de que água parada é um foco de proliferação do mosquito da dengue, então deve-se tampar o reservatório da cisterna e colocar telas nas tubulações que possam oferecer passagem ao mosquito. Outro cuidado é sobre a proliferação de microrganismos. É importante manter a cisterna sempre limpa, por mais que a água não seja usada para usos potáveis. O recomendado é utilizar 10mL de água sanitária para cada 100L de água, a cada 2 dias. Ainda, é preciso ficar atento ao filtro, verificando se ele está funcionando adequadamente.
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Em contrapartida à simplicidade das cisternas, há projetos mais elaborados, os quais são chamados de “projetos de dimensionamento de reservatórios de água pluvial”. Em alguns projetos é possível instalar um sistema de bombeamento que leva a água do reservatório para uma caixa de água (separada da caixa de água potável!), a qual é interligada a tubulações como o vaso sanitário e a máquina de lavar roupa. Há, ainda, a opção de captar a água por meio de um telhado verde, do qual é encaminhada para o reservatório.
Alguns autores usam o termo cisterna para denominar apenas o local de armazenamento da água e tratam o projeto no todo como o dimensionamento do reservatório, outros autores projetam uma cisterna antes do reservatório e há os que tratam apenas como reservatório. Não há um consenso sobre os termos ou sobre o melhor projeto, o ideal é verificar algumas referências e escolher as que melhor atendem às necessidades do caso. Como todo projeto, é preciso verificar a viabilidade antes de construir.
Há uma infinidade de materiais de consulta disponíveis na internet que ensinam a fazer desde o cálculo da precipitação média na área do projeto até a instalação completa. Para auxiliar no dimensionamento, é possível utilizar a norma ABNT 15.527/2007 (Água de chuva – aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – requisitos). Tal norma traz alguns métodos de cálculo para dimensionamento de reservatórios.
Se você é engenheiro/quase engenheiro, já pode colocar seus conhecimentos em prática e tentar construir uma cisterna ou um reservatório em casa (e isso vale para qualquer engenharia, você viu a simplicidade de alguns projetos!). Os benefícios você vai sentir ao longo do tempo, como a redução no valor da conta de água e tranquilidade caso ocorra uma situação que exija redução do consumo, em casos de seca ou problemas no abastecimento de água, por exemplo.
Referências: Rainwater harvesting; IPT; Ecocasa; Uol; ABNT 15.527/2007
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Larissa Fereguetti
Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.