O concreto autocicatrizante (CAC) vem, gradativamente, ganhando espaço em obras no Brasil. A mais recente aplicação do material foi nas lajes de fundo das estações Praça Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alá e Antero de Quental, da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro. Qual a caracterização desse material, propriedades e aplicações? E por que só agora o Brasil vem utilizando essa solução?
“No Brasil, a tecnologia dos concretos autocicatrizantes é desenvolvida nos laboratórios de pesquisa do Departamento de Materiais do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), e tem sido aplicado em projetos específicos, onde se busca maior durabilidade das obras”, diz o engenheiro civil Emilio Minoru Takagi.
No estudo desenvolvido no ITA, o princípio-ativo da autocicatrização está no aditivo cristalizante, vinculado ao uso de fibras sintéticas, a partir de materiais como polipropileno, aço e vidro, além de pó de alumínio. Esses elementos permitem a geração de microfissuras de até 0,4mm – tamanho que é o ideal para que, ao serem penetradas pela água, permitam que o catalisador cristalino funcione como o gatilho para o processo de cicatrização. “O catalisador cristalino eleva a alcalinidade da água dentro das fissuras, o que favorece a formação de produtos hidratados estáveis nas faces internas das fissuras estáticas, com abertura de até 0,4 mm”, revela Emilio. Essa tecnologia também foi utilizada na laje de subpressão do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS-RJ) e na cobertura fluída do Museu de Arte do Rio (MAR).
Os estudos iniciais sobre autocicatrização e ocratização do concreto datam da primeira metade do século passado, e partiram corretamente do princípio de que se poderia transformar a portlandita - Ca(OH)2 - composto parcialmente solúvel, presente nas interfaces do concreto seccionadas pela fissura, em compostos insolúveis e com boa resistência mecânica. Nesse sentido, o "protocolo" mais comum para o tratamento consiste na insuflação sob pressão do gás tetrafluorsilicato na fissura, buscando-se o resultado da reação.
2 Ca(OH) 2 + SiF4 à 2 CaF2 + Si(OH) 4
Mais moderadamente, inclusive se valendo da nanotecnologia, estuda-se a introdução de microcápsula na formulação do concreto que, ao se romperem, em decorrência da manifestação de fissura, poderiam liberar compostos que, combinando-se ou não com a portlandita, obteriam a fissura, dificultando ou mesmo impedindo o acesso de elementos agressivos ao concreto e às armaduras. A despeito do grande número de pesquisas que vêm sendo realizadas em diferentes países, entendemos que a autocicatrização não representa tecnologia consolidada, sendo ainda fruto de aplicações experimentais.
Do ponto de vista dos resultados, técnicos e financeiros, acreditamos que ainda valha mais a pena evitar a formação de fissuras, por meio da eficiência no projeto estrutural, na escolha dos materiais, na formulação/dosagem do concreto, correção dos processos de lançamento, adensamento e cura.
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Eduardo Mikail
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