Acredito que todo brasileiro ficou ciente da situação passada pelo Rio Grande do Sul desde o começo do mês de maio de 2024. Mas o que muita gente se pergunta - inclusive os próprios gaúchos - é por que isto aconteceu do modo como aconteceu. Em 1941, foi a última inundação mais grave que Porto Alegre sofreu. Muitos só conheciam esta história pelos relatos de seus avós; era quase como uma lenda urbana. Mas, infelizmente, agora, a situação não apenas se repetiu como foi mais grave.
O avanço do Guaíba assusta e o medo de que isto se repita no futuro faz todos refletirem sobre o que deu errado e o que pode ser feito no futuro para evitar uma nova catástrofe. Continue lendo este artigo do Engenharia 360 para saber mais!
O impacto das mudanças climáticas
Os mais velhos contam que em 1941 a situação também foi bastante dramática. Porém, naquela época houve uma menor quantidade de chuvas e a água da inundação avançou mais lenta, permitindo que as pessoas fugissem das enchentes mais rapidamente. Então, é preciso dizer que os eventos climáticos sempre existiram. O que mudou?
A saber, a intensidade desses eventos, que hoje é maior, e a frequência, que apresenta um intervalo menor. Em um ano, o Rio Grande do Sul sofreu três grandes desastres naturais.
O estado despreparado
Algo que agravou situação neste ano de 2024 foi o fenômeno El Niño, que intensificou as chuvas no sul do Brasil - no ano dde 2025 teremos La Niña, que trará a seca extrema. Isto expôs claramente a fragilidade da infraestrutura urbana de Porto Alegre. Ficou evidente que esta cidade - assim como outras cidades pelo país - não estava preparada para o que aconteceu. Fica a questão sobre a responsabilidade da Engenharia - ou falta de Engenharia - no desastre!
Vale dizer que este não é o momento de apontar culpados enquanto tudo está um caos e toda a ajuda é necessária. E pode ser que nenhum governante tenha errado em suas ações. O que podemos afirmar é que a nossa visão coletiva é que está equivocada. Nos acomodamos em fazer as coisas erradas e iguais dizendo "tudo sempre foi assim". Ok, mas a vida mudou, o planeta mudou, as nossas necessidades e urgências mudaram. Então, a resposta da engenharia, da governança e muito mais precisa mudar, acompanhando tudo isto, se renovando, se ressignificando.
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Falhas administrativas
Uma coisa que ficou clara é que nunca se pensou, de modo resiliente, como lidar com tais situações. Por exemplo, instalamos uma sirene numa determinada região, ela toca na emergência, mas o que fazer depois? Porto Alegre tem um muro de proteção na região do centro histórico, mas será que o modelo de estrutura estava atualizado, não precisava de manutenção? Imaginem que até a pouco tempo as pessoas até apoiaram a derrubada deste muro.
"(...) as fundações do muro foram feitas já prevendo a carga dessa avenida que não foi construída. Em baixo da terra, o muro tem 6 metros de fundação. É uma estrutura muito bem construída e bem calculada para comportar a via." - Arq. Lígia Bergamaschi Botta, ex-projetista do DNOS, que condiziu a construção do Muro da Mauá, em reportagem de Correio do Povo.
Então, durante a enchente, nos deparamos com a surpresa de que as bombas para bombeamento das águas pluviais pararam de funcionar em vários bairros, deixando alagadas diversas ruas. Também teve falhas de contenção dos diques, como do Sarandi e da Fiergs.
"O muro não é um enfeite. É uma obra de prevenção de enchentes. Se fosse retirado, todo esse sistema de taludes e casas de bombas seria jogado fora, pois não faria diferença e entraria água pelo cais. Tanto é que o muro protegeu. Essa água que entrou não teve nada a ver com ele. Foi resultado da falta de condições nas casas de bombas.",
"E essa falta de manutenção acabou resultando no retorno da água. Tanto é que só quatro ficaram funcionando. Com manutenção, a história poderia ser diferente. O sistema só falhou por falta de incremento (...)."
- acrescentou Lígia Bergamaschi Botta.
Claro que é preciso avaliar mais profundamente o que ocorreu. Mas é sabido que tudo isto vem depois de um momento de desestruturação e redução de investimentos em departamentos como de Esgotos Pluviais (DEP) e Água e Esgotos (DMAE). Só para se ter uma ideia, vários sistemas de prevenção a enchentes são datados da década de 1960. Resumindo, a transferência de responsabilidades sem a devida estruturação resultou em falhas graves.
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Prioridades Distorcidas
Sabemos que, sobretudo por questões políticas, muito do orçamento dos municípios acaba indo para projetos com menos prioridade. Porto Alegre vem investindo bem em diversos projetos de revitalização da cidade - coisas que realmente eram necessárias. Agora talvez seja o caso de se colocar o pé no freio e dar atenção ao que realmente se precisa, como a manutenção da drenagem urbana, vias, rede elétrica, comportas e casas de bombas.
É triste, sim, mas não se poderá investir por muito tempo em outros projetos que possam comprometer aplicações financeiras de proteção da população. A modernização de vários sistemas essenciais é URGENTE!
A perspectiva da Engenharia
Não quero ser do tipo pessimista, porque vivo em Porto Alegre e acredito na força do povo gaúcho. Por isto, estou alimentando o pensamento constante de que veremos, depois deste trauma absurdo, uma reconstrução poderosa partindo da cobrança da população. Para começar, é importante adotarmos projetos hidrológicos adequados e aproveitar períodos de estiagem para realizar obras preventivas.
Só a manutenção constante, os planos de contingência e a busca por melhorias poderá evitar novas tragédias! É hora de o Estado, ao lado do povo e com ajuda da Engenharia, reconhecer os problemas e agir com determinação para proteger nossos cidadãos contra futuros desastres.
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Fontes: Publica, Brasil de Fato, Correio do Povo.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.