Recentemente, a crise econômica global atingiu um novo patamar a partir da taxação de produtos estrangeiros em território norte-americano. As tensões geopolíticas, especialmente entre os Estados Unidos e a China, ficaram mais fortes. Em meio às discussões, começamos a ouvir bastante a expressão “terras raras”, entendendo que estas grandes potências mantêm seu foco em tais regiões do planeta. Mas, afinal, o que de tão raro tem nessas terras para que todos as queiram? E o quanto isso pode impactar as engenharias?
No artigo a seguir, do Engenharia 360, discutimos a definição de terras raras, sua aplicação na engenharia e o papel do Brasil nesse mercado. Confira!
O que são terras raras
As terras raras são regiões do planeta ricas em metais raros (mais precisamente 17 elementos químicos, entre eles o térbio e o disprósio) com potencial de exploração. Justamente por esses materiais serem escassos, encontrá-los é algo difícil, principalmente em concentrações economicamente viáveis para a extração - até porque, por muitas vezes, estão misturados a outros minerais complexos. Ao mesmo tempo, eles são cruciais para uma vasta gama de aplicações tecnológicas, desde ímãs super potentes até baterias de carros elétricos e turbinas eólicas.
Sendo assim, os materiais encontrados nas terras raras são considerados indispensáveis para a engenharia moderna (desde a produção de computadores quânticos a supercondutores e sistemas de armazenamento de energia de alta capacidade) e a transição para uma economia mais sustentável.
As terras raras no epicentro da disputa geopolítica global
Em todo o planeta Terra, a distribuição de reservas de terras raras é algo desigual e a maioria delas está, hoje, sob domínio da China (cerca de 70%). Como é de imaginar, para potências como os Estados Unidos, grandes produtores e consumidores dos itens fabricados pela engenharia, esse é um assunto que incomoda. Uma estratégia para se manter em crescimento no mercado é diversificar suas fontes de abastecimento e desenvolver suas próprias capacidades de produção - o que não é tarefa fácil, claro.
Atualmente, os norte-americanos possuem as suas reservas, mas dependem demais da importação de muitos desses elementos por parte do governo chinês.
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Então, podemos concluir que as terras raras são usadas hoje como instrumento de poder político e econômico. Isso explica em parte o motivo das taxações impostas pelos Estados Unidos da China, que consequentemente limitou as exportações de terras raras, gerando um impacto direto na produção de itens como drones, mísseis e até aeronaves norte-americanas.
Aplicações das terras raras na engenharia e tecnologia
- Ímãs superpotentes (motores elétricos, turbinas eólicas, geradores)
- Baterias de longa duração (celulares, veículos elétricos, sistemas de energia)
- Dispositivos eletrônicos e ópticos (LEDs, lasers, sensores)
- Equipamentos de defesa (mísseis, aviões militares, radares, sonares)
- Exploração espacial (telescópios, foguetes)
- Ímãs permanentes de neodímio (motores, geradores, discos rígidos)
- Baterias NiMH (veículos híbridos, dispositivos portáteis)
- Catalisadores (craqueamento de petróleo, controle de emissões)
- Telas e lâmpadas fluorescentes
- Sistemas de comunicação militar e guiagem
O mercado global e a busca por novas fontes
Como explicamos anteriormente, o mercado global de terras raras é altamente concentrado naquilo que está sob domínio, em maioria, da China. É claro que essa dependência tem gerado preocupações, como de segurança de abastecimento e competição justa, em todos os países ao redor do mundo. Nações como a Austrália estão investindo em projetos próprios de mineração e processamento de terras raras para reduzir sua dependência.
Vale destacar que garantir o acesso a esses materiais críticos é importante para impulsionar o desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia.
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A extração de terras raras no Brasil
Pensa que o Brasil está fora dessa disputa? É claro que não! Pelo contrário, muitas potências ao redor do mundo estão de olho nas reservas existentes em nosso território. Isso porque o nosso país tem a terceira maior reserva de terras raras do mundo, com 21 milhões de toneladas. Então, por que não somos mais ricos com isso? Bem, em parte porque estamos deixando cair nossas riquezas nas mãos de terceiros - lamentável. Também porque nossa tecnologia e economia são insuficientes para aumentar a exploração independente e respeitando os limites da natureza. Menos de 0,02% dessas reservas são exploradas.
Resumindo, o Brasil tem, sim, um grande potencial para aumentar sua produção e se tornar um importante player no Mercado Global de terras raras. Podemos citar como exemplo o Projeto Caldeira, em Poços de Caldas, Minas Gerais. O mesmo está sendo conduzido pela empresa australiana Meteoric Resources. O objetivo é a extração de terras raras de argila iônica, um tipo de depósito onde os elementos de terras raras são absorvidos em partículas de argila. A saber, esse tipo de extração é relativamente simples, barata e ambientalmente amigável.
Segundo a Meteoric Resources, o depósito identificado é suficiente para exploração por pelo menos 50 anos. E a expectativa é que mais de 700 empregos sejam criados, movimentando a economia local e gerando inovação tecnológica.
O futuro da mineração de terras raras no Brasil
O mundo sabe que precisa passar por uma transição de uma economia tradicional para um modelo mais sustentável - sobretudo com baixa emissão de carbono. O problema é que isso demanda por tecnologias mais avançadas, que só podem ser desenvolvidas com a utilização de elementos provenientes de terras raras. E tudo isso é um ciclo! Até porque a própria extração mais eficiente de terras raras depende do desenvolvimento de tecnologias, como a biolixiviação. Então, assim como temos em frente boas oportunidades, também precisaremos lidar com os desafios.
Vale destacar que, além de Poços de Caldas, outros projetos de mineração de terras raras estão em desenvolvimento no Brasil, como em Araxá (MG), Morro do Ferro (MG) e Serra Verde (GO). Esses projetos representam um grande potencial para impulsionar a produção nacional de terras raras e fortalecer a posição do Brasil no mercado global.
Não podemos deixar de falar sobre os impactos ambientais significativos provocados pela mineração de terras raras, como a destruição de ecossistemas e a poluição da água e do solo. Sendo assim, os projetos conduzidos precisam adotar obrigatoriamente práticas sustentáveis para minimizar esses efeitos e proteger o meio ambiente. Por exemplo, trabalhar com a recuperação de áreas degradadas e a gestão adequada de resíduos, além da própria reciclagem de terras raras de produtos descartados, o que pode reduzir a demanda por novas extrações.
A colaboração global entre governos, empresas e instituições de pesquisa será essencial para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades da indústria de terras raras.
Veja Também: Terras raras: importância desse recurso para as engenharias
Fontes Olhar Digital.
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Eduardo Mikail
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