Este mês, o rompimento da barragem em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, completa um ano. Em decorrência deste fato, nós vamos, neste primeiro texto, conhecer um pouco mais sobre o que foi o acontecimento, antes de falar sobre os impactos que ainda persistem no ambiente. Também vamos descobrir como a engenharia está envolvida tanto no processo que poderia ter evitado o acidente, quanto na recuperação do ambiente e na adoção de medidas que tentam reparar parte dos impactos causados.
O que foi o desastre ambiental?
No dia 05 de novembro de 2015, houve o rompimento da barragem Fundão, pertencente à mineradora Samarco. A barragem localizava-se em Bento Rodrigues, próximo ao município de Mariana, em Minas Gerais.
A barragem Fundão foi construída para servir de depósito para resíduos provenientes da mineração de ferro e continha 50 milhões de metros cúbicos de rejeito. O resíduo de mineração de ferro é classificado como não perigoso e não inerte para manganês e ferro, de acordo com a NBR 10.004/2004 (Resíduos Sólidos - Classificação).
Quais foram os impactos gerados?
A onda de lama proveniente da barragem alcançou o Rio Doce, deixando um rastro de poluição ao longo do seu curso. No dia 21/11/2015, a lama chegou a Linhares, no Espírito Santo, totalizando 663,2km de corpos hídricos impactados diretamente. O Distrito Bento Rodrigues ficou completamente coberto por lama, que carregou o que encontrou pela frente: casas, carros, árvores e tudo mais. Como consequência, milhares de pessoas tiveram problemas no abastecimento de água e no fornecimento de energia, 725 pessoas ficaram desabrigadas e 17 morreram.
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O rompimento da barragem foi considerado o maior desastre ambiental do Brasil, além de ser o maior do mundo envolvendo barragens de rejeito. 35 cidades mineiras ficaram prejudicadas, além de 3 cidades capixabas.
A ONU classificou o ocorrido como violador dos direitos humanos. A fauna, a flora, as áreas marítimas e de conservação, o patrimônio histórico, a pesca, a agropecuária, o turismo e o lazer na região foram prejudicados e mais de 11 toneladas de peixes morreram. Vários impactos ainda serão sentidos durante os próximos anos.
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Por que o rompimento aconteceu?
Em fevereiro deste ano, a Polícia Civil de Minas Gerais concluiu o primeiro inquérito sobre o rompimento da barragem. De acordo com as análises realizadas, a causa foi a liquefação (quando o sedimento sólido tem a resistência reduzida repentinamente) ocorrida junto aos rejeitos arenosos que suportavam os alteamentos na parte esquerda da barragem. Sete fatores foram apontados na contribuição do processo de liquefação, como a elevada saturação dos rejeitos arenosos, falhas no monitoramento, com poucos aparelhos para monitorar, sendo alguns com defeito, assoreamento, deficiência na drenagem e outros.
O que poderia ter sido feito para evitar o desastre?
Aparentemente, não havia um plano de contingência ou de gestão de riscos vigente. Estes documentos, normalmente, contém as ações que devem ser tomadas no caso de uma emergência, como foi o rompimento da barragem, tanto por parte da empresa como a população que encontra-se em risco e que deve ser treinada para agir nessas circunstâncias.
Como engenheiros/futuros engenheiros, sabemos que grandes obras (como mineração, hidrelétricas, rodovias e outras) envolvem uma preparação cautelosa no projeto e devem abordar fatores como os impactos, riscos e o contato com a população. Esses empreendimentos devem elaborar um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para obtenção das licenças ambientais.
Para evitar desastres como o rompimento da barragem de Fundão, é necessário que o processo de licenciamento ocorra de maneira adequada, com um EIA bem elaborado e com uma avaliação correta por parte dos órgãos públicos licenciadores, que precisam contar com um corpo técnico capacitado. Ainda, é preciso que as ações propostas no EIA sejam cumpridas, como o monitoramento adequado, a gestão dos riscos e o respeito aos fatores de segurança inerentes ao empreendimento.
A fiscalização também é um fator importante e que deve ser realizado adequadamente. O relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) foi falho e omisso na fiscalização da segurança das barragens brasileiras, visto que não foi capaz de garantir que a Samarco implementasse os padrões exigidos pela Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei 12.334/2010).
O que restou depois de um ano?
A tragédia ocorrida em Mariana completou um ano, mas muitos são os impactos que permanecem no ambiente e que ainda vão persistir por um tempo. Além dos impactos ambientais e sociais, houve um impacto na economia, principalmente nos municípios cujos moradores dependiam das atividades da mineradora.
Quase toda semana vemos nos noticiários um novo desenrolar do processo de tentativa de recuperação ambiental e dos impactos sociais gerados, além das consequências no âmbito jurídico. Na Parte II, vamos falar um pouco mais sobre essas tentativas de recuperação e sobre como estão o ambiente e a população um ano após o rompimento da barragem.
Referências: Agência Minas, Ibama, Ministério Público, Estadão.
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Larissa Fereguetti
Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.