Nos últimos anos, Carlo Rovelli, um italiano nascido em Verona, é um dos maiores divulgadores científicos em destaque nas manchetes mundiais. Ele vem sendo apresentado recorrentemente como o "novo Stephen Hawking". Por quê? Por suas colocações serem provocativas, chamando a atenção dos curiosos, especialmente quando o assunto é tão instigante como a natureza do tempo. Quer saber o que ele tem a dizer sobre isso? Leia no texto a seguir!
Um físico "rock star" da Ciência
De tempos em tempos, surgem novos divulgadores científicos tidos como "rock stars" da Ciência, ou seja, pesquisadores com presença marcante na mídia e abordagens didáticas e intrigantes sobre conceitos complexos. Muitos entusiastas mais velhos da área, por exemplo, se lembram ainda muito bem de Carl Sagan (1934-1996), mundialmente famoso pela pioneira série televisiva chamada 'Cosmos'. Da mesma forma, também se recordam de Stephen Hawking (1942-2018), que, em adição à sua inspiradora luta contra a esclerose lateral amiotrófica (ELA), fascinava seus leitores trazendo à luz ideias gerais de teorias de difícil compreensão.
Mas, desde 2012, quando apresentou sua TEDx Talks na Lombardia, Itália, Carlo Rovelli - já bastante célebre na academia -, foi alçado a esse mesmo status ao não poupar esforços em trazer a atenção da plateia para si. Tudo começou com a impactante frase que usou para abrir a palestra:
"O tempo. O tempo não existe. Tenho 15 minutos para convencê-los disso."
Veja Também: Google afirma ter conseguido criar cristal do tempo através de supercomputador quântico
Afinal, o que é o tempo?
A noção de tempo pode parecer a coisa mais natural do mundo; afinal, está sempre presente em nossas vidas, queiramos ou não. E, de fato, desde a antiguidade, o tempo é uma parte fundamental da organização da humanidade.
LEIA MAIS
Já utilizamos o céu para marcar o tempo, pelo movimento do Sol, da Lua e dos demais corpos celestes. Hoje, temos relógios, calendários e outros mecanismos que nos garantem precisão e controle de nossas rotinas. Se o tempo é tão fundamental, é fácil pensar nele como absoluto: uma reta constante, seguindo sempre para a frente!
PUBLICIDADE
CONTINUE LENDO ABAIXO
Assim também pensavam os cientistas de tempos passados, incluindo figuras conhecidas como Galileu Galilei e Sir Isaac Newton, nos séculos XVI e XVII. Existia, em suas concepções, o espaço, com as suas três dimensões em que somos livres para nos movimentarmos. Independentemente, existia o tempo, avançando em ritmo constante em uma única direção; imperceptível, mas mensurável. E se, um dia, mesmo que o universo se acabasse, o tempo estaria lá.
A saber, foi a partir dessas ideias que Newton desenvolveu suas Leis Fundamentais sobre a Mecânica, isto é, o movimento dos corpos, e a gravitação universal!
Veja Também: Série Grandes Matemáticos: Pitágoras, Euclides e Arquimedes
Uma Revolução Científica
Tudo isso muda radicalmente com a chegada de uma mente brilhante e atenta a trabalhos experimentais desafiadores que estavam em curso: Albert Einstein. Em 1905, considerado um "ano miraculoso", o cientista publicou cinco artigos que mudariam a história da ciência. Entre eles, estavam as ideias por trás da chamada relatividade especial. Aqui, não é mais o tempo a quantidade absoluta, mas a velocidade da luz. E, para atender essa demanda, tanto tempo como espaço passam a ser mais "flexíveis".
PUBLICIDADE
CONTINUE LENDO ABAIXO
A duração de um evento, antes percebida como a mesma para qualquer relógio ou cronômetro, passa a depender da velocidade do medidor em relação a um ponto de referência. Ou seja, o tempo depende de quem o observa!
Um paradoxo bem conhecido ilustra a ideia: dois gêmeos tomam decisões bem diferentes na vida e um decide viajar pelo espaço como astronauta, a uma velocidade próxima à da luz, enquanto o outro fica na Terra. Ao retornar, o gêmeo astronauta perceberia que seu irmão ficou mais velho do que ele!
Na relatividade, as três dimensões espaciais e o tempo, na verdade, compõem um único tecido que permeia o universo. Assim podemos pensar em uma coleção infinita de eventos existentes em um espaço-tempo quadridimensional. Como no espaço, alguns instantes de tempo podem já ter sido acessados e outros não, mas todos estão ali. E Einstein, anos após seu "ano miraculoso", com as novas ideias da relatividade geral, estende as mesmas ideias como explicação da gravidade, que seria decorrente de distorções do espaço-tempo causadas pela massa dos objetos. Enfim, o tempo mostra não ser simplesmente uma seta, mas algo muito mais fluido e complexo!
O tempo na gravidade quântica
Enquanto ocorria uma revolução na física macroscópica, outra revolução ocorria no conhecimento sobre o universo microscópico. A Mecânica Quântica trouxe à luz diversos fenômenos em escala atômica e subatômica utilizando ferramentas teóricas criativas e peculiares. Ambas, Relatividade Geral e Mecânica Quântica, são muito bem demonstradas por experimentos científicos. Porém, as diferenças são grandes demais para a conciliação em uma única teoria. É aí que entra o trabalho de Carlo Rovelli.
Rovelli é um dos grandes nomes da chamada Gravidade Quântica em Loop (GQL), que, assim como a mais conhecida Teoria das Cordas, tenta unificar os campos distintos da física.
"Para chegar a uma nova teoria, devemos construir um esquema mental que não tenha a ver com nossa concepção usual de espaço e tempo.",
"Você tem que pensar em um mundo em que o tempo não é mais uma variável contínua, mas uma outra coisa."
- Carlo Rovelli, em entrevista para a BBC Mundo.
De fato, na GQL, o espaço-tempo é tido como fragmentado e granulado. O próprio tempo não é necessário em muitas de suas equações, o que inspirou Rovelli a pensar em uma nova concepção de "física sem o tempo". E, partindo tanto da Mecânica Quântica quanto da Termodinâmica, afirma que a aparente existência do tempo seria resultado de nossa ignorância. Assim, para ele, a passagem do tempo não seria uma parte objetiva do universo, mas somente a direção em que ganhamos informação.
Achou a discussão interessante? O que mais você conhece sobre a ideia de tempo na Ciência? Compartilhe com a gente nos comentários!
Veja Também: Física Relativística: entenda a evolução dessa teoria | 360 Explica
Imagens: Todos os Créditos reservados aos respectivos proprietários (sem direitos autorais pretendidos). Caso eventualmente você se considere titular de direitos sobre algumas das imagens em questão, por favor entre em contato com contato@engenharia360.com para que possa ser atribuído o respectivo crédito ou providenciada a sua remoção, conforme o caso.
Comentários
Jônatas Ribeiro
Mestrando em física, atuando na área de física nuclear, e bacharel em física e astronomia pela USP. Eternamente apaixonado por ciência e tecnologia, mas com muito espaço no coração também para música, cinema, literatura e HQs.