Recentemente, nós mostramos aqui no Engenharia 360 um tijolo feito de cinzas da cana-de-açúcar. Agora, alguns estudantes de Engenharia criaram um tijolo ecológico a partir de urina humana. O material, que mostra um grande potencial de aplicação, está sendo chamado de “pee-nomenal” pela imprensa internacional. Curioso? Saiba mais sobre ele neste texto.
Tijolo ecológico a partir de urina humana
Urina, areia e bactérias são a base do novo tijolo ecológico. O primeiro passo dos mestrandos em Engenharia Civil da Universidade da Cidade do Cabo, na África, foi coletar a urina de banheiros masculinos. Para fazer o tijolo mesmo, eles usam um processo chamado precipitação de carbonato microbiano. Esse processo é semelhante à formação de conchas marinhas. Nele, as bactérias produzem uma enzima responsável por separar a ureia que existe na urina e formar o carbonato de cálcio. Isso faz com que o material se solidifique. O tempo total de produção é de quatro a seis dias, aproximadamente.
Inicialmente, os alunos conseguiram um tijolo tão rígido quanto um convencional feito com 40% de calcário. Um tempo depois, eles dobraram a rigidez do tijolo. Atualmente, a proposta é alterar o material que é colocado no molde e permitir que as bactérias levem mais tempo na cimentação das partículas.
Vale ressaltar que são necessários cerca de 25 a 30 litros de urina para fazer um tijolo. Em média, é preciso ir ao banheiro aproximadamente 100 vezes para ter essa quantidade de urina. Pensando em um banheiro doméstico, a conta é meio inviável, mas ela fica muito mais real se pensarmos em banheiros públicos.
Vantagens e desvantagens do tijolo ecológico a partir de urina humana
Uma grande vantagem é que não preciso nenhum aquecimento artificial para que o tijolo seque. No processo de produção convencional, é necessário usar fornos a altas temperaturas (cerca de 1.400°C). Isso representa um grande problema ambiental, visto que libera elevada quantidade de gás carbônico. Tal problema é eliminado no tijolo de urina.
Entretanto, uma das desvantagens é o odor inicial dos tijolos. O cheirinho desagradável, que não mata ninguém, desaparece depois de 48 horas. Ou seja, quem sofre é quem faz o tijolo, não quem usa na construção. E pode ficar tranquilo: todos os patógenos e bactérias são eliminados na primeira etapa, que é feita em um pH muito elevado.
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O projeto é parte do mestrado de uma das alunas, Suzanne Lambert. Em geral, os pesquisadores afirma que a urina é um material riquíssimo que, apesar de ser apenas 1% do esgoto doméstico, é responsável por 80% do nitrogênio, 56% do fósforo e 63% do potássio desse efluente. Esse fósforo pode ser convertido em fosfato de cálcio, um fertilizante importante para a agricultura. Ainda mais que as fontes de fosfato no mundo estão mais escassas. Isso indica que a urina pode valer dinheiro em um futuro próximo.
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Larissa Fereguetti
Cientista e Engenheira de Saúde Pública, com mestrado, também doutorado em Modelagem Matemática e Computacional; com conhecimento em Sistemas Complexos, Redes e Epidemiologia; fascinada por tecnologia.