Empreendedor, nas palavras de Louis-Jacques Fillion, professor da Escola de Negócios de Montreal, é “uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões”. Essa designação para pessoas que decidem criar algo diferente e gerador de valor, dedicando tempo, esforço, paciência e dinheiro em prol de benefícios múltiplos se popularizou dentro da Administração de Empresas, a tomada de decisão sobre recursos disponíveis, trabalhando com pessoas e através delas para atingir objetivos.
Entretanto, se pararmos para pensar, essa definição talvez tenha sido a mais difundida por ser muito abrangente, mais até do que a própria Administração. Afinal, o empreendedorismo cabe em qualquer lugar e circunstância. Ele não precisa visar necessariamente ao lucro – e os chamados negócios sociais, que a mídia tem destacado atualmente, provam isso. Ele nasce dentro de um processo criativo - uma torrente de impulsos elétricos do cérebro transformadas em ideias – e externaliza-se, na prática, colocando essas ideias à prova da realidade.
O sentido de criatividade
A criatividade é uma atividade livre que se manifesta de duas formas principais: o inventar e o aprimorar. E ela não é nada sem imaginação. É recorrente a frase de Einstein: “Imaginação é mais importante do que raciocínio. Com o raciocínio você vai de A para B, mas com imaginação, você vai a qualquer rincão do universo”.
O sentido de criatividade fortemente associado ao empreendedorismo remete à genialidade, como nas grandes invenções de cientistas notáveis, que revolucionaram a forma de enxergar o mundo. Ou engenheiros, que passaram a otimizar o trabalho humano nos mais variados ramos a partir da Revolução Industrial. A própria administração adquiriu corpo teórico a partir do trabalho de um engenheiro mecânico: Frederick Winslow Taylor, considerado o pai da Administração Científica.
As escalas do empreendedorismo
O empreendedorismo existe em várias escalas, e não está subscrito a realizações grandiosas. Ele está implícito em pequenas ações conscientes que, bem orientadas, podem provocar grandes repercussões. No campo dos negócios, por exemplo, é comum as pessoas evitarem a prática empreendedora por acreditarem ser uma coisa difícil demais. Isso ocorre porque geralmente elas foram educadas a moderar seus sonhos. Ou então sonham alto sem a disposição necessária para viabilizar esses sonhos.
Por muito tempo os brasileiros preferiram a segurança do profissionalismo liberal ou do funcionalismo público em detrimento da criação de um negócio próprio. Isso ainda é muito verificável nos dias de hoje, muito embora a situação tenha começado a ficar um pouco diferente graças a iniciativas como o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e outras instituições que surgiram para fomentar o empreendedorismo, fornecendo informações para ajudar as pessoas nessa tarefa que supunham difícil demais para elas.
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FGTS
Passou a ser comum ver o engenheiro aposentado que resolveu, com o dinheiro do FGTS, abrir um restaurante. Ou mesmo o executivo frustrado que largou o emprego para ter sua própria franquia. A principal vantagem disso é que as pessoas deixaram de ser acomodas com respeito à satisfação de suas necessidades e desejos, passando a acreditar que a mudança de planos, tão frequente na condução de uma empresa, não é tão assustadora quanto parecia, e porventura mais estimulante do que os empregos tradicionais.
Essa fase de quebra de paradigmas ocorreu, entre muitas outras coisas, mais cedo nos Estados Unidos. Lá o empreendedorismo universitário, que hoje tem chamado muita atenção, já havia começado, ligeiramente, mas com grandes expoentes, na década de 80. E um dos locais-chave dessa transformação foi o Vale do Silício, na Califórnia. O filme “Piratas do Vale do Silício” conta a história do início da era dos computadores pessoais, protagonizada por Bill Gates, Steve Wozniak e Steve Jobs, entre outros.
As bibliografias sobre o tema
Há muitos livros sobre isso, mas um livro recente que gostaria de destacar é “A cabeça de Steve Jobs”, do editor-chefe da revista eletrônica Wired, Leander Kahney. Steve Jobs, o criador da Apple, é apresentado como um gênio excêntrico e criativo, extremamente preocupado com a qualidade e a estética. Não é a toa que os produtos da Apple alcançaram tamanho prestígio.
O equivalente moderno para isso, também no Vale, é a criação do Facebook, encabeçada por Mark Zuckerberg e seus amigos, entre os quais o brasileiro Eduardo Saverin. A história é contada no livro “Bilionários por acaso”, que deu origem ao filme “A rede social”. Mark é apresentado como alguém que passou do isolacionismo nerd para nada mais nada menos o criador da maior rede digital de interação social de todos os tempos – tornando o bilionário mais jovem dentre aqueles que partiram do zero. Em maio de 2012, o Facebook realizou seu IPO (abertura de capital), tornando-se a maior empresa de informática do mundo, à frente de empresas como Google e Microsoft.
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A importância do empreendedorismo nas universidades
MIT
Notadamente, ao longo desse processo as universidades passaram a reconhecer a importância do empreendedorismo para a formação profissional, afora as áreas em que, naturalmente, ele já era estudado (Administração, Economia, Contabilidade...). O Massachusetts Institute of Technology (MIT), por exemplo, criou o GEL – Gordon Engineering Leadership, um programa de liderança e inovação para estudantes de engenharia. Se a engenharia é a principal responsável pela inovação tecnológica do mundo de hoje, é imprescindível que o aprendizado sobre o empreender esteja vinculado à capacitação técnica.
Ironicamente, uma matéria da administração formal, que surgiu com o engenheiro Taylor, retorna, de certa forma, para a engenharia. Tudo isso leva a crer que o empreendedorismo é, na verdade, uma área transdisciplinar que coaliza diferentes saberes para a proposição de melhorias em produtos e processos, e retocar toda a caricatura que, continuamente, esboçamos do mundo.
Do MIT mesmo, há uma egressa brasileira, que está fazendo sucesso com seu livro, “A menina do vale”. Bel Pesce se diplomou em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação no instituto americano, e ainda completou os cursos de Administração, Economia e Matemática. Trabalhou na Google e na Microsoft e desenvolveu o Lemon, um aplicativo para controle financeiro. E só para constar: hoje dirige sua própria empresa, também no Vale do Silício (!) onde também se encontram outros brasileiros.
Exemplo Brasileiro
Bel Pesce veio para elevar a autoestima dos estudantes brasileiros, que parecem começar a dar aqui, no Brasil, uma clara mostra de empreendedorismo universitário, em uma época favorável para o país, a sexta maior economia do mundo, que ainda possui muitos problemas, mas é onde está sendo depositada grande parte da esperança do planeta. Bel Pesce também relembra outro grande empreendedor brasileiro – talvez o maior – que resolveu empreender quando ainda estava na faculdade. Mas como os piratas antigos, ele deixou a faculdade para se dedicar ao trabalho, e passou de estudante de engenharia metalúrgica e vendedor de seguros em Aachen, na Alemanha, para embrenhar pelos investimentos em mineração do ouro. Seu nome: Eike Batista, apontado como o homem mais rico do Brasil e um dos mais ricos do mundo.
No livro “O X da Questão”, Eike até coloca o seu conceito empreendedor, a “Visão 360 graus” em termos de engenharias: Engenharia Financeira, Engenharia Jurídica, Engenharia Ambiental e Social, Engenharia de Saúde e Segurança, Engenharia Logística, Engenharia da Comunicação, Engenharia Política, Engenharia de Pessoas e Engenharia da Engenharia.
USP
A Escola Politécnica da USP tem a fama de ser a maior universidade brasileira formadora de líderes e empreendedores. Apesar disso, a cidade de Campinas, onde está localizada a UNICAMP, já foi apontada como um futuro “Vale do Silício” (não por conta do material silício, mas sim pelo pólo tecnológico de destaque mundial que se firma cada vez mais). Em Minas Gerais, os principais tecnopólos estão na região do Triângulo Mineiro e nas mediações de Santa Rita do Sapucaí. Recentemente, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) inaugurou uma incubadora de empresas com base tecnológica, a CENTEV. A Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) também conta com iniciativas promissoras na interseção entre engenharia e administração nos campi avançados, Santo Antônio (sede, em São João del-Rei) e Alto Paraopeba (em Ouro Branco).
Estão no tocante o aparecimento das empresas juniores nas universidades, que visam dar uma experiência corporativa aos estudantes, preparando-os melhor para o mercado de trabalho.
Ao que tudo indica, é a hora e a vez do Brasil revelar empreendedores precoces. O objetivo não é sugerir que os estudantes larguem a faculdade para tentar abrir uma empresa, como fizeram grandes pioneiros. Mas lembrar que o entendimento da concepção de negócios, e ideias em geral, é fundamental para uma boa qualificação profissional. E mais ainda: é um arcabouço para a projeção pessoal, em termos de sucesso e ou prestígio, e para o desenvolvimento da sociedade como um todo.
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Eduardo Mikail
Somos uma equipe de apaixonados por inovação, liderada pelo engenheiro Eduardo Mikail, e com “DNA” na Engenharia. Nosso objetivo é mostrar ao mundo a presença e beleza das engenharias em nossas vidas e toda transformação que podem promover na sociedade.