Engenharia 360

CARNAVAL: a engenharia (e as regras) por trás dos carros alegóricos

Engenharia 360
por Simone Tagliani
| 01/02/2018 | Atualizado em 19/02/2023 5 min

CARNAVAL: a engenharia (e as regras) por trás dos carros alegóricos

por Simone Tagliani | 01/02/2018 | Atualizado em 19/02/2023

Carnaval chegando e todo mundo animado, só não pode esquecer que há regras e muita engenharia por trás dos carros alegóricos.

Engenharia 360

Carnaval chegando e todo mundo animado, só não pode esquecer que há regras e muita engenharia por trás dos carros alegóricos.

Em fevereiro tem o Carnaval, uma das festividades mais aguardadas pelo povo brasileiro. Os eventos realizados durante esse período em todo o país ativam a economia, principalmente o setor de turismo. Mas, em meio a tanta folia e agitação, esse costume oferece riscos graves. Acidentes ocorridos nos últimos anos – um destaque para os desfiles de 2017 da ‘Paraíso do Tuiuti’ e ‘Unidos da Tijuca’, ambas pertencentes ao Grupo Especial do Rio de Janeiro – fizeram com que órgãos municipais e federais tomassem providências sérias e criassem novas regras para a aprovação de carros alegóricos, ajudando a eliminar possíveis improvisos e facilitando a fiscalização dos trabalhos técnicos realizados nas escolas.

desfile de carros alegóricos
(imagem de Fernando Frazão/Agência Brasil extraída de Wikimedia) - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Uniaodailha2014.jpg

Acidentes causados por estruturas antiquadas e falhas executivas

Carros alegóricos são, na verdade, obras de engenharia muito complexa. São grandes veículos construídos sobre chassis de caminhões ou ônibus. Alguns modelos apresentam um comprimento aproximado de vinte metros. Já outros são alongados e recebem reforço estrutural em ferro, chegando a medir até oitenta metros. A partir disso é acrescido todo o tipo de elemento, formando algo como uma a grande escultura. O movimento do conjunto é feito com ajuda de um motor a propulsão, comandado por um motorista que fica no interior do veículo. Mas, sua orientação é mesmo dada por outras pessoas, que ficam do lado de fora do veículo, empurrando o mesmo.

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Infelizmente, muitas alegorias são construídas com peças reutilizadas há várias décadas. Além disso, a falta de mão de obra qualificada em alguns barracões de escolas, por vezes, compromete a execução das estruturas. As inovações propostas pelos carnavalescos - como a inserção de peças articuladas, elevadores hidráulicos, chafarizes, e tantos outros – deixam os carros repletos de efeitos especiais e com proporções exageradas. Sendo assim, na ânsia pela vitória, muitas dessas ideias acabam deixando de lado a segurança. Alguns projetos chegam a desrespeitar a quantidade máxima recomendada de pessoas por metro quadrado. Esses são só alguns dos motivos pelos quais se tem tantos acidentes envolvendo carros alegóricos em desfiles de Carnaval.

CARNAVAL: a engenharia (e as regras) por trás dos carros alegóricos
(imagem extraída de Notícias São Minuto)
CARNAVAL: a engenharia (e as regras) por trás dos carros alegóricos
(imagem extraída de G1)

Veja Também: 11 coisas que todo engenheiro pensa durante o Carnaval

O papel dos engenheiros na construção de carros alegóricos

Cada escola de samba precisa ter uma equipe técnica responsável pelos projetos, pela execução e pela aprovação dos carros alegóricos. Engenheiros e outros profissionais, de diversas categorias, devem ter as competências necessárias para compor as megaestruturas, planejando desde os sistemas mecânicos até os elétricos. É como construir uma casa. Há muito cálculo, ensaios de carga e mais para assegurar que a estrutura fique em boas condições de segurança – sendo resistente e estável, capaz de suportar todo o peso esperado, sem esquecer as oscilações causadas pelo movimento dos foliões.

carros alegóricos por dentro
(imagem extraída de G1)

É papel dos responsáveis técnicos pela construção dos carros alegóricos:

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  • cuidar da logística do barracão e da segurança dos funcionários;- acompanhar sua montagem, para garantir que tudo siga de acordo com os projetos executivos;
  • fiscalizar suas estruturas, os mecanismos de dirigibilidade, de efeitos especiais, entre outros;
  • encontrar soluções - como materiais impermeáveis, não inflamáveis e não tóxicos - para que as peças resistam às intempéries durante o período dos desfiles;
  • conferir se o conjunto segue as regras estabelecidas pela respectiva liga das escolas; e
  • conferir se o conjunto segue os padrões e regras estabelecidas pela Associação de Normas Técnicas; pelo Corpo de Bombeiros; pelos conselhos regionais profissionais; e pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia.
carros alegóricos por dentro
(imagens extraídas de Globo e G1)

“O carro tem que ser projetado por engenheiro especializado em estrutura metálica, que é apto para montar a alegoria prevendo todas as hipóteses (peso da estrutura, vento, ações de frenagem, aceleração etc). Se isso não ocorre, há falha de projeto.”

Antônio Eulálio, ex-conselheiro do Crea-RJ, em reportagem de ‘O Dia’ de IG.

“Se o profissional é responsável pelo projeto, ele faz uma ART de projeto. Se for pela montagem, é outro profissional que faz essa parte e registra. Se for parte de estrutura, é um engenheiro mecânico. Na parte elétrica, um engenheiro eletricista, e assim por diante.”

Reynaldo Barros, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro, em reportagem ao G1.

CARNAVAL: a engenharia (e as regras) por trás dos carros alegóricos
(imagem extraída de Blog Compositores da Portela)

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As mudanças nas regras de aprovação dos carros alegóricos

Há muito as normas e os modelos de fiscalização para a aprovação dos carros alegóricos, por todo o Brasil, pareciam insuficientes. A indústria do carnaval se tornou tão grandiosa, os projetos das alegorias tão complexos, que o governo deveria padronizar melhor os procedimentos para coibir atos de imprudência, como o exercício de certos serviços por meio de pessoas físicas ou jurídicas sem a devida habilitação legal. Infelizmente, essas novas regulamentações chegaram tarde, depois que a integridade física e o conforto do público foram ameaçados ao limite.

Os dois acidentes ocorridos na ‘Marquês de Sapucaí’, no ano passado, motivou órgãos como o Inmetro a criarem uma regulamentação mais abrangente para a vistoria e aprovação dos carros alegóricos. Antes, o instituto não realizava esse serviço por não se tratar de veículos normais, ou seja, que trafegam no trânsito. Agora, por decisão do Governo Federal, ele deve ajudar a averiguar as estruturas, os motores e o funcionamento dos carros. As escolas também precisam apresentar, antecipadamente, para suas respectivas ligas, os documentos que comprovam a liberação do Corpo de Bombeiros e as ARTs - as Anotações de Responsabilidade Técnica – referentes ao serviço de cada especialista contratado, como engenheiros civis, mecânicos, eletricistas e mais.

carros alegóricos em desfile
(imagem de Raphael David/Agência Brasil extraída de Wikipedia) - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Desfile_de_carnaval_na_sapucai_13.jpg

“Há normas que usamos para fiscalizar veículos modificados que já poderiam ser imediatamente aplicadas aos carros alegóricos, outras específicas terão que ser desenvolvidas, mas num primeiro momento o importante é pensarmos nos quesitos primordiais de segurança. Uma regulamentação é viva, e pode sempre ser aprimorada.”

Carlos Augusto de Azevedo, presidente do Inmetro, em reportagem de ‘Reclame Aqui – Notícias’.

A vistoria final e a apuração das causas dos acidentes

Os papéis do Corpo de Bombeiros e do CREA na aprovação dos carros alegóricos também são importantes. O primeiro deve verificar a presença de equipamentos de prevenção contra incêndio e pânico, assim como analisar a capacidade de ocupação dos carros. O segundo, embora participe da fiscalização geral dos mesmos, que acontece antes do desfile, não tem obrigatoriedade de licenciá-los. Na verdade, sua função principal é verificar se os especialistas contratados pelas escolas estão, de fato, habilitados a desempenhar suas atividades. Se houver acidentes, por exemplo, são os seus funcionários que, primeiramente, irão apurar se houve algum tipo de negligência, imperícia ou imprudência por parte desses profissionais.

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Fontes: Blog do Pet Civil, G1O Dia - IGSetor 1 - BandEBC Agência Brasil.

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Simone Tagliani

Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.

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