As mudanças nos hábitos das pessoas geram impactos diretos no meio ambiente. Alguns efeitos são visíveis, como aqueles cenários apocalípticos de poluição atmosférica ou rios cheios de lixo. Mas algumas formas de contaminação não são tão nítidas. É o caso dos micropoluentes, como hormônios e antibióticos, por exemplo.
Micropoluentes nos rios
Mas como essas drogas chegam aos rios? A resposta é a mesma: por meio de resíduos humanos, ou seja, lixo contendo restos de antibióticos, por exemplo, ou da nossa própria excreta (fezes e urina que contenham concentração elevada de hormônios ou medicamento).
No caso, isso é conduzido às estações de tratamento de esgoto, não é removido em função da carência de legislação rigorosa e padrão de qualidade de efluentes lançados e o produto do tratamento é devolvido ao corpo d’água. Muitas vezes, esse corpo d’água é o manancial que provê nossa captação.
Resumidamente, os micropoluentes são um desafio para a engenharia, pois nossas estações de tratamento de água e esgoto não foram concebidas para remover esse tipo de substância. Não é à toa que são chamados de “contaminantes emergentes”, afinal tratam-se de algo que ganhou atenção recentemente. Com isso, há esforços no sentido de identificar estes micropoluentes, regulamentar devidamente a sua remoção, conceber plantas de tratamento que os removam e adaptar as existentes.
Há muitas pesquisas ocorrendo no sentido de investigar a presença de micropoluentes em águas brasileiras e também maneiras de remover estes contaminantes. No entanto, o quadro do saneamento do Brasil, como um todo, ainda requer investimentos em saneamento básico. Tecnologias de remoção de micropoluentes estão associadas a polimento de efluentes e a tratamentos avançados, demandando mais custos para a estação.
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Antibióticos e seus efeitos na água
Especificamente, o problema dos antibióticos na água está associado ao desenvolvimento de resistência por parte dos microrganismos. O objetivo do antibiótico é matar as bactérias e conter infecções, mas o que pode acontecer se essas mesmas bactérias estiverem expostas a eles o tempo todo? E os humanos? É nesse sentido que as pesquisas são desenvolvidas.
Avaliando, pela primeira vez, um cenário global desse tipo de contaminação, pesquisadores da Universidade de York, no Reino Unido, analisaram amostras de rios de 72 países e descobriram que os antibióticos estavam presentes em 65% deles.
Níveis mais alarmantes de contaminação com esses micropoluentes foram encontrados com mais frequência nas análises de rios da Ásia e África, segundo a equipe, com os locais em Bangladesh, Quênia, Gana, Paquistão e Nigéria excedendo em muito os níveis aceitos. A questão da regulamentação nesse sentido é muito variável, tanto em função do medicamento, quanto do local. De toda forma, os pesquisadores investigaram as amostrar procurando por 14 antibióticos comumente usados.
Conforme esperado, os cientistas confirmaram que locais de alto risco eram tipicamente próximos a estações de tratamento de esgoto, depósitos de lixo e em algumas áreas de conflito político (estas últimas são especialmente vulneráveis e já foram apontadas aqui pelo viés da engenharia humanitária).
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Também considerando esta perspectiva, é interessante levar em conta que a divulgação deste estudo abordou o problema dos micropoluentes como algo global, embora os limites de segurança tenham sido mais frequentemente ultrapassados nos países em desenvolvimento.
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Fontes: CNN. The Guardian.
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Kamila Jessie
Doutora em Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo (EESC/USP) e Mestre em Ciências pela mesma instituição; é formada em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) com período sanduíche na University of Ottawa, no Canadá; possui experiência em tratamentos físico-químicos de água e efluentes; atualmente, integra o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF) do Instituto de Física de São Carlos (USP), onde realiza estágio pós-doutoral no Biophotonics Lab.