O voluntariado pode ser ligado a uma motivação pessoal de identificação com a causa escolhida ou com o senso de justiça social, quando o indivíduo se sente incomodado com alguma situação. O voluntariado, então, deve ser usado como ferramenta de desenvolvimento social e incentivado não só em ações assistencialistas como de forma contínua, visando a transformação e não apenas a mitigação de uma situação específica.
O que é o voluntariado?
O voluntariado é pautado na motivação em fazer algo em prol do outro. No Brasil, as ações voluntárias foram historicamente influenciadas pela doutrina cristã que acredita no voluntariado como forma de demonstrar generosidade e caridade (HOLANDA, 2003). De acordo com a Organização das Nações Unidas, voluntário é aquele “jovem, adulto ou idoso que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades de bem estar social ou outros campos.”
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “o trabalho voluntário é definido como aquele não compulsório, realizado por pelo menos uma hora na semana de referência, sem receber nenhuma remuneração em dinheiro ou benefícios, com o objetivo de produzir bens ou serviços para terceiros, isto é, pessoas não moradoras do domicílio e não parentes.”
Entendemos então que o voluntariado é um trabalho sem fins lucrativos, ou seja, para ser voluntário você não pode receber remuneração! O tempo que você se dedica ao trabalho voluntário é totalmente definido por sua disponibilidade. Algumas organizações pedem horas mínimas de trabalho voluntário porque dependem exclusivamente de voluntários para progredir. Agora, vamos saber um pouco mais sobre os números do voluntariado no Brasil.
O voluntariado no Brasil
No Brasil, o IBGE é responsável por censos e pesquisas envolvendo a população. Anualmente, é feita a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). A PNAD é contínua desde 2012, sendo a mais recente a de 2019 trazendo informações sobre outras formas de trabalho, no qual se enquadra o trabalho voluntário (PNAD, 2019).
Em 2019, estimou-se que cerca de 6,9 milhões de brasileiros realizaram algum tipo de trabalho voluntário. Em relação a 2018, foi uma redução de 4%. A região com maior índice de trabalho voluntariado foi a região Sul. Entre homens e mulheres, as mulheres fazem mais trabalho voluntário e em relação à raça, a taxa de trabalho voluntário é maior entre pretos que brancos e pardos. Além disso, o trabalho voluntário é mais comumente realizado por pessoas ocupadas (com emprego) do que pessoas não ocupadas.
PUBLICIDADE
CONTINUE LENDO ABAIXO
LEIA MAIS
Segundo a PNAD, quanto maior o nível de instrução da pessoa, maior é a taxa de realização de trabalho voluntário. Além disso, a média brasileira de horas voluntárias dedicadas semanalmente foi de 6,6 horas.
Ainda, de acordo com a pesquisa, 90,7% das pessoas que realizaram trabalho voluntário o fizeram por meio de empresa, organização ou instituição; 79,6% o fizeram por meio de congregação religiosa, sindicato, condomínio, partido político, escola, hospital ou asilo e; 11,9% realizaram por meio de associação de moradores, associação esportiva, ONG, grupo de apoio ou outra organização. Lembrando que a pessoa pode realizar o trabalho voluntário em mais de um desses grupos.
Como podemos observar, o Brasil ainda tem muito o que avançar no âmbito do trabalho voluntário uma vez que apenas uma pequena proporção da população declara realizar trabalhos sem remuneração. Além disso, percebemos que existem vários locais em que um voluntário pode atuar e isso será explorado no próximo tópico.
Formas de voluntariado
Abaixo estão listadas as principais formas de realização de um trabalho voluntário. No entanto, existem outras opções e você deve sempre buscar a que mais se adequa ao seu perfil e interesse.
PUBLICIDADE
CONTINUE LENDO ABAIXO
- Corporativo: o voluntariado corporativo ou empresarial acontece quando a empresa realiza ações e incentivos aos seus funcionários para que se engajem com projetos sociais na comunidade, sejam promovidos apenas pela própria empresa ou em parceria com outras organizações.
- Instituições religiosas, escolas, asilos e outras instituições: muitas escolas, asilos e instituições assistencialistas aceitam voluntários pontuais e fixos para realizarem atividades com os beneficiários. É comum que um grupo de voluntários vá fazer uma ação em dias específicos ou crie um projeto continuado para trabalhar com os assistidos.
- Organizações sociais (ONGs, Associações, etc): ser voluntário de organizações sociais nacionais ou internacionais pode ter vários níveis de comprometimento. Você pode ser um voluntário embaixador, que divulga a causa com que se identifica. Pode ser um voluntário pontual, que participa de algumas ações específicas. Você pode ser um voluntário fixo, que se dedica semanalmente para as atividades organizacionais, ações e projetos. Além disso, se você é especialista em alguma área, você pode oferecer serviços probono para essas organizações.
- Criando o seu próprio projeto voluntário: você pode se inspirar em ações de outras pessoas para criar seu próprio projeto, que pode ser pontual (visando uma causa em tempo e espaço específico) ou contínuo (pretendendo criar ações de impacto recorrente).
Engenharia e Voluntariado
Muitas vezes, pensamos que a Engenharia não é um espaço para projetos sociais. Mas engenharia nada mais é que aplicar conhecimentos, sejam empíricos ou científicos, em prol dos seres humanos! Engenheiros tem muito espaço para projetos sociais e são muito necessários!
Existem algumas organizações sociais que têm como foco projetos de Engenharia. Nós, do Engenheiros sem Fronteiras Brasil, somos parte de uma rede internacional em 65 países do mundo e atualmente contamos com mais de 2000 voluntários ativos! A Teto e a Habitat para Humanidade Brasil também são ONGs que trabalham com infraestrutura e obras/reformas em comunidades vulneráveis! Além disso, existem outras organizações e coletivos que lutam por uma Engenharia mais humana e popular!
Considerando o déficit em direitos básico no Brasil - como habitação, saneamento, energia entre outras amenidades- que advém de políticas públicas pouco efetivas, o voluntariado e as organizações da sociedade civil que prestam serviços de engenharia são essenciais para garantir direitos mínimos a pessoas que vivem em situação vulnerável.
Vimos os dados sobre voluntariado no Brasil e percebemos que a maior parte da população não declara esse tipo de trabalho, o que nos mostra que ainda há muito a se expandir no âmbito da sociedade civil em relação a tomada de responsabilidade social. O voluntariado é importante para muitas pessoas no país que não são atendidas pelos poderes públicos ou privados e é nesse contexto que o terceiro setor atua e precisa de mão de obra com conhecimento para desenvolver projetos e soluções viáveis para problemas sociais.
Leia também: Gerenciamento de Projetos na Engenharia: entenda o que é e quais as suas etapas
Sobre a autora:
Engenheira Ambiental e Sanitarista. Mestranda em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Voluntária no ESF-Brasil desde 2016.
Fernanda Deister Moreira- Coordenadora de Captação de Recursos no Engenheiros sem Fronteiras Brasil
E, você, engenheiro(a), o que vai fazer agora? Que tal procurar a causa que mais te sensibiliza e começar a trabalhar voluntariamente em prol de um mundo melhor? Tem pessoas precisando de você!
Comentários
Engenheiros Sem Fronteiras Brasil
Ser Engenheiros Sem Fronteiras é acreditar na importância da engenharia para o desenvolvimento social e ser protagonista desta transformação. O ESF-Brasil faz parte da rede Engineers Without Borders – International (EWB-I), presente em 65 países ao redor do mundo. Desde 2010 no Brasil já transformamos mais de 84 mil vidas. Acreditamos na importância do envolvimento comunitário, do diálogo e da cooperação. Os projetos são desenvolvidos e executados por voluntários locais organizados em núcleos, que se envolvem pessoalmente com os membros da comunidade, escutam suas necessidades e estabelecem parcerias e amizades. Nós da Diretoria Nacional replicamos essa tecnologia social, capacitando e orientando os líderes destes núcleos para desta forma gerarmos o impacto nos locais que atuamos.