Engenharia 360

Engenheira na Nova Zelândia: engenharia já é difícil, imaginem em inglês?

Engenharia 360
por Flávia Wolf
| 23/06/2020 4 min

Engenheira na Nova Zelândia: engenharia já é difícil, imaginem em inglês?

por Flávia Wolf | 23/06/2020

Atuar em engenharia fora do país pode ser um verdadeiro desafio

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Atuar em engenharia fora do país pode ser um verdadeiro desafio

Essa foi a frase mais pensada por mim durante 6 anos trabalhando como Engenheira executando obras de grande porte na Nova Zelândia. Mas hoje em dia vivendo de novo no Brasil – por escolha voltei ano passado (2019) - confesso que a Engenharia agora ficou mais difícil no meu próprio idioma. Então, já vou adiantando que talvez vocês se deparem com um português meio estranho, ou uma palavra inventada pela tradução ou termos em inglês mesmo.

Se acostumem! Porque eu tive que me acostumar a dirigir do outro lado (veja a foto abaixo) e a escrever l como 1... sério mesmo. Porque 1 se parecia com o 7 então não ia rolar pedir 100m3 de concreto e na realidade vir 700m3. Imagina!!! Também tive que começar a pensar em mm! Entre tantas outras coisas básicas assim...

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Primeira vez dirigindo o carro do empresa  na Nova Zelândia
Primeira vez dirigindo o carro do empresa - sim do outro lado!

Mas isso até que foi tranquilo, o difícil mesmo foi quebrar o paradigma de uma construção ser algo sólido... porque lá na Nova Zelândia vem um terremoto e se a ‘’coisa’’ – me refiro a estrutura – for sólida, ela não vai ficar em pé, meu caro amigo. Isso mesmo, negócio é aceitar que a estrutura vai ter que se mexer para todos os lados para não cair. Poderia citar aquela letra da música ‘’nóis trupica mais não cai’’ só que temos que ser sérios e escrever textos técnicos não é mesmo? Então vamos lá.

Quando cheguei na Nova Zelândia, para a minha sorte, o governo estava investindo na infraestrutura da região de Wellington (Capital da NZ) e eu estava morando justo lá. Meus vizinhos me falaram de uma rodovia que ia começar a ser construída e depois de 6 meses – estava eu tocando a obra de construção do canteiro de obras (Precast Yard), onde seriam produzidas 121 vigas pré-moldadas e protendidas as quais construiriam 5 pontes de 12 do projeto.

O que eu não sabia era que 55 das vigas iriam ser as maiores já feitas na NZ (veja a primeira delas indo embora) e iriam para a mesma ponte – Waikanae. E o que aconteceu? Bom, aconteceram várias coisas. Depois de 2 anos trabalhando nesse projeto eu já fui reconhecida. Tem gente que trabalha a vida inteira para isso. Por isso sou muito agradecida – mas não foi sorte não, foi muito trabalho duro!

primeira viga das 55 saindo do Precast Yard indo para a Waikanae Bridge ser instalada
Primeira viga das 55 saindo do Precast Yard indo para a Waikanae Bridge ser instalada
Todas as vigas (55) já instaladas na ponte Waikanae
Todas as vigas (55) já instaladas na ponte Waikanae

Reconhecida como? Bom, primeiramente porque justo antes das vigas serem instaladas na ponte – um dia meu chefe me chamou e disse que eu tinha que me preparar que na semana seguinte teríamos um visita na obra e eu seria a pessoa que mostraria a obra, explicaria como as vigas são feitas, etc. Essa visita era nada mais nada menos que o Primeiro Ministro da NZ!!!! (veja na foto abaixo como foi a visita) Pra quem não sabe, é a mesma coisa que o Presidente do país (bom deixar explicado porque eu não sabia).

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grupo de engenheiros nova zelândia
Euzinha explicando ao Primeiro Ministro da NZ (gravata azul) sobre a fabricação das vigas das pontes

E logo depois disso ainda fui nomeada para uma premiação... por um chinês que era engenheiro de qualidade (Quality Engineer) e tinha construído uma pista de Formula 1 não sei onde na China (não me lembro). O currículo dele era lindo, mas o inglês dele era bem difícil entender. Enfim, um dia na obra ele chegou lá dizendo que queria falar comigo e eu pensei – lá vem ele me cobrar de novo que tenho que terminar o controle de qualidade, blá blá blá... e ele disse que ia me nomear para uma premiação. E não é que acabei ganhando?

Premiação professional woman of the year 2016
Foto da premiação com o meu marido que merece esse prêmio tanto quanto eu

Mas enfim, o que queria dizer mesmo é que não há sonho impossível para quem tem atitude. Atitude é tudo! Se você não sabe algo hoje, isso não significa que você não estará ensinando esse algo para alguém amanhã...

E pensar que tive que estudar para minha entrevista de emprego, porque como eu ia falar de estrutura se não sabia nem como era armadura em inglês? (é reinforcement ou reinforcing by the way).

Obrigada pela oportunidade de compartilhar um pouquinho da minha história e acompanhem os próximos posts...

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Leia também: Diploma de engenharia do Brasil vale me outros países?

E você, encararia atuar como engenheiro/a em outro país? Conta para a gente nos comentários!

Comentários

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Flávia Wolf

Engenheira Civil com experiência em execução de obras de grande porte em um país sísmico - Nova Zelândia de 2014 a 2019. Simplesmente resolvi publicar todo o conteúdo acumulado nesses 6 anos de muito trabalho. Tudo que é bacana tem que ser compartilhado!

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