Engenharia 360

Entenda qual a importância da Engenharia Popular para a transformação social

Engenharia 360
por Engenheiros Sem Fronteiras Brasil
| 03/08/2020 | Atualizado em 21/08/2024 5 min
Imagem gerada em IA de Freepik

Entenda qual a importância da Engenharia Popular para a transformação social

por Engenheiros Sem Fronteiras Brasil | 03/08/2020 | Atualizado em 21/08/2024
Imagem gerada em IA de Freepik
Engenharia 360

A formação de engenheiros no Brasil está em transformação. As diretrizes curriculares nacionais para cursos de engenharia têm como objetivo promover um perfil de profissional com uma formação humanista, crítica e reflexiva, voltada para a sustentabilidade. No entanto, a prática mostra que ainda são poucos os profissionais que integram essa visão holística, considerando os impactos sociais e ambientais em suas atividades. Saiba mais no artigo a seguir, do Engenharia 360!

Desafios na formação da Engenharia Popular

Desde os anos 1960, a ciência e a tecnologia passaram a ser vistas não apenas como neutras, mas como áreas interligadas à sociedade, suscetíveis a críticas e questionamentos, especialmente no que diz respeito a ideias lineares de progresso. Apesar dessa mudança de perspectiva, estudos apontam que os cursos de engenharia, como os de aquicultura, alimentos, ambiental, civil, e outros, ainda apresentam uma predominância de uma visão tecnicista. Essa abordagem separa a teoria da prática e foca principalmente no setor industrial e privado.

PUBLICIDADE

CONTINUE LENDO ABAIXO

Podemos inferir que os currículos de engenharia, pouco - ou nada - apresentam questões socioambientais nos problemas e soluções tecnológicas e que nesse afastamento acabou também por contribuir para desigualdades sociais e desiquilíbrio ambiental.

Dito isto, concluímos que um sistema de ensino puramente tecnicista tende a provocar a ganância e adormece a consciência coletiva. Neste contexto de resgate do cidadão engenheiro, surge um movimento internacional de múltiplas iniciativas de engenharia engajada, que refletem sobre o papel das engenharias e da produção sociotécnica, do qual a Engenharia Popular (EP) é uma das vertentes.

engenharia popular
Construção de tecnologia de saneamento ecológico no I Encontrão Sem Fronteiras (Rio de Janeiro-2019)

Veja Também: Quais são as Matérias de Engenharia Ambiental? Descubra Aqui!

Os princípios fundamentais da Engenharia Popular

A Engenharia Popular é guiada por princípios como a educação popular, a autogestão, a justiça social e ambiental, o feminismo e o respeito à diversidade. Esses princípios garantem que as soluções tecnológicas desenvolvidas sejam relevantes e atendam às necessidades das comunidades.

PUBLICIDADE

CONTINUE LENDO ABAIXO

Portanto, as práticas da Engenharia Popular são norteadas pelos seguintes princípios:

  • educação popular;
  • autogestão;
  • justiça social e ambiental;
  • feminismo, antirracismo e contra LGBTfobia;
  • cuidado com a vida;
  • valorização da cultura em sua diversidade;
  • reconhecimento e diálogo entre os diversos saberes (populares, tradicionais e acadêmicos).

Resumindo, a Engenharia Popular repensa nos modos de produção e reprodução da vida.

Exemplos de casos de projetos e ações

A formação de engenheiros comprometidos com a justiça social e ambiental é fundamental para o fortalecimento da Engenharia Popular.

A Rede de Engenharia Popular Oswaldo Sevá (REPOS) é uma referência de Engenharia Popular. Ela tem propiciado a organização de espaços de formação e debate, para alunos e profissionais de engenharia e áreas tecnológicas, como os encontros nacional e regionais de engenharia e desenvolvimento social (ENEDS e EREDS).

Os debates e ações da rede perpassam por:

  • formação do engenheiro (estrutura curricular, extensão universitária, pesquisa-ação),
  • trabalho (organização, ergonomia, saúde, agricultura, extrativismo, empresas recuperadas, empreendimentos de economia solidária, autogestão, catadores),
  • sustentabilidade (energia, água, reciclagem, objetivos de desenvolvimento sustentável),
  • direito à cidade (habitação, mobilidade, acessibilidade), questões de gênero/raça/etnia (desigualdade, opressões, xenofobia),
  • tecnologia (social, assistida, inclusão digital, software livre),
  • dentre outros.

A importância da formação

A Engenharia Popular demonstra que a tecnologia pode ser um instrumento poderoso para a transformação social.

A ciência e a engenharia são catalizadores das grandes transformações na sociedade. Mas para uma verdadeira transformação econômica, social e ambiental de um país como o Brasil, é preciso que a engenharia se comprometa de fato com as questões que verdadeiramente importam para uma vida sustentável do país e do planeta.

PUBLICIDADE

CONTINUE LENDO ABAIXO

Entenda qual a importância da Engenharia Popular para a transformação social
V Congresso Brasileiro dos Engenheiros sem Fronteiras (2019).

Estamos recebendo muitos alertas da natureza. Até quando vamos esperar para mudar?

Veja Também: Influencer MrBeast constrói 100 casas e transforma vidas


Entenda qual a importância da Engenharia Popular para a transformação social

Texto escrito por Sandra Rufino, docente do DEP/CT/UFRN. Mestre e Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo e pós-doutora em Tecnologias Sociais pela Université Catholique de Louvain. É membra fundadora e coordenadora do Grupo Multidisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão em Projetos de Engenharia e Gestão Aplicados ao Desenvolvimento Ambiental e Social (PEGADAS-UFRN), membra fundadora da Rede de Engenharia Popular Osvaldo Sevá (REPOS), conselheira dos Engenheiros Sem Fronteiras (ESF) Brasil e orientadora do ESF Natal. Atua com Engenharia Popular, Tecnologias Sociais e Economia Solidaria desde 2000.

Fontes:

BAZZO, J. L. S; BAZZO, W. A. Qual formação profissional? Qual responsabilidade social?. In: XXXVIII COBENGE, 2010, Fortaleza. Anais XXXVIII COBENGE. Fortaleza: ABENGE, 2010. v. 1.

BORDIN, L.; BAZZO, W. C. Sobre (in)coerências entre a universidade pública e popular, a engenharia e o desenvolvimento de tecnologias sociais. Educitec, Manaus, v. 05, n. 11, p. 55-72, jun. 2019.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES n. 11, de 11 de março de 2002. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Seção 1, p. 32, 9 abr. 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES112002.pdf>. Acesso em: 23 janeiro 2020.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES n. 2, de 24 de abril de 2019. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Seção I, p. 43, 26 abr. 2019. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=112681-rces002-19&category_slug=abril-2019-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 23 janeiro 2020.

COLOMBO, Ciliana R. Princípios teórico-práticos para formação de engenheiros civis: em perspectiva de uma construção civil voltada à sustentabilidade. 2004. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Centro tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

DWEK, Mauricio. Perspectivas para a formação em engenharia: o papel formador e integrador do engenheiro e o engenheiro educador. 2008. (Graduação em Engenharia Metalúrgica). Escola Politécnica. Universidade de São Paulo, 2008

DWEK, M.. Por uma renovação da formação em engenharia: questões pedagógicas e curriculares do atual modelo brasileiro de educação em engenharia. 2012. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, COPPE, Rio de Janeiro, 2012.

FRAGA, L. S. O curso de graduação da faculdade de engenharia de alimentos da UNICAMP: uma análise a partir da educação em ciência, tecnologia e sociedade. 2007. 86p.Dissertação (Mestrado em Política Científica e Tecnológica) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2007.

FRANKEL, R. Por uma engenharia de produção comprometida com a sociedade. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Rio De Janeiro.

GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com sentido. São Paulo: Editora e Livraria Paulo Freire, 2008.

INVERNIZZI, Noela; FRAGA, Lais. Educação em Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente. Vol.1, Número Especial. Revista Ciência & Ensino, 2007.

KLEBA, J. Engenharia engajada: desafios de ensino e extensão. Revista Tecnologia e Sociedade, Curitiba, 13, 27, pp. 172-189, 2017.

Comentários

Engenharia 360

Engenheiros Sem Fronteiras Brasil

Ser Engenheiros Sem Fronteiras é acreditar na importância da engenharia para o desenvolvimento social e ser protagonista desta transformação. O ESF-Brasil faz parte da rede Engineers Without Borders – International (EWB-I), presente em 65 países ao redor do mundo. Desde 2010 no Brasil já transformamos mais de 84 mil vidas. Acreditamos na importância do envolvimento comunitário, do diálogo e da cooperação. Os projetos são desenvolvidos e executados por voluntários locais organizados em núcleos, que se envolvem pessoalmente com os membros da comunidade, escutam suas necessidades e estabelecem parcerias e amizades. Nós da Diretoria Nacional replicamos essa tecnologia social, capacitando e orientando os líderes destes núcleos para desta forma gerarmos o impacto nos locais que atuamos.

LEIA O PRÓXIMO ARTIGO

Continue lendo