Nota: controlar a temperatura de cura do concreto pode ser um desafio na medida que temos o agravamento das mudanças climáticas. Olha o que acontece em 2023, por exemplo, uma onda de calor excepcional atingiu o país em agosto, com temperaturas muito acima do normal durante o inverno. O ar quente e seco cobrindo o país é resultado da combinação de influência do El Niño e mudanças climáticas. Sim, esse calor fora do comum para o inverno é altamente atípico.
O concreto é hoje em dia o material mais utilizado na construção civil. Talvez você não saiba, mas em sua “receita” vai cimento, água, areia, brita e aditivos. Também que é a reação da junção do cimento com a água que gera o “endurecimento” da massa, um processo que libera bastante calor. E que as consequências desta união química podem ser trágicas em alguns casos, como quando o fenômeno não é devidamente controlado e acabam surgindo as patologias que comprometem a estabilidade das estruturas.
O que é calor de hidratação?
‘Calor de hidratação’ é o termo que os engenheiros usam quando querem se referir ao calor liberado pela reação dos componentes misturados à "receita" do concreto. Isso é algo que acontece enquanto há a transferência de energias no interior dos elementos que estão sendo concretados. Já no início do “endurecimento” da massa acontece este aumento de temperatura, cujo calor é liberado posteriormente para atmosfera.
Este tal ‘calor de hidratação’ é, portanto, algo natural de acontecer. Mas por que será que se precisa ter tanta atenção com isto? Bem, o problema maior é quando a peça concretada recebe um grande volume de concreto. A energia produzida em seu interior é alta e o calor – que pode chegar a quase 70 graus - encontra grande dificuldade de se dissipar na atmosfera. Até conseguir chegar à camada externa – em expansão - pode levar muito tempo e, enquanto isto, acabar provocando trincas na massa que já está em processo de cura ou “endurecimento” – retração.
Como reduzir o calor de hidratação no concreto?
Claro que há muitas causas envolvidas nos problemas ocasionados pelo calor de hidratação além da quantidade de cimento e água na mistura da massa de concreto. Pode ser, por exemplo, por causa do desempenho de outros elementos na composição; das variações térmicas do local da construção em todo o tempo de cura da peça concretada; umidade relativa do ar; intensidade do vento; maneira como o concreto foi lançado do caminhão betoneira para as fôrmas; e muito mais.
"Quando a temperatura do concreto se diferencia da temperatura ambiente em mais de 25°C, a probabilidade de ocorrer uma fissura é muito alta.”, “Trincas e fissuras podem surgir também quando a temperatura da mistura passa dos 65ºC, gerando um fenômeno raro chamado etringita tardia." - especialista em concreto Rubens Curti, em reportagem de Mapa da Obra.
Medidas para evitar o aumento do calor de hidratação
- Evitar a exposição excessiva do concreto ao sol nas primeiras horas e dias após a aplicação na fôrma – pode ser interessante, em alguns casos, programar a concretagem no período da noite;
- Fazer a concretagem em camadas em peças muito volumosas, não de uma vez só;
- Tentar reduzir, ao máximo, a quantidade de aglomerante na mistura do concreto;
- Tentar manobras para controlar a temperatura da massa, hidratando o cimento e resfriando os outros materiais da mistura, evitando acelerar a evaporação da água - importante para amenizar o processo de calor excessivo;
- Usar lonas plásticas especiais, serragem, areia, sacos de aniagem ou papel umedecido para cobrir a superfície do concreto, evitando a perda de água;
- E irrigar por pelo menos 7 dias e noites a superfície do concreto logo após o término da concretagem.
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O que acontece com concretagens em dias muito quentes?
As obras não podem ficar paradas esperando as melhores oportunidades do mercado! Os projetos têm prazos de entrega. Mas às vezes eles atrasam. E sabe por quê? Sim, o clima! Pois não é possível concretar em temperaturas extremas! Abaixo de 15 graus Celsius, o endurecimento do concreto pode ficar lento demais, o calor de hidratação baixo e a peça final acabar com menor resistência. Já com um calor acima de 35 graus pode acontecer de o endurecimento ser rápido, o calor alto, a água evaporar depressa demais e a peça, além de ficar pouco resistente, acabar com fissuras também.
“A temperatura ambiente para lançamento do concreto deve estar entre 5 °C e 30 °C. Já a temperatura do concreto por ocasião de seu lançamento deve ser fixada de modo a evitar fissuração de origem térmica.”
“O calor (ambiente) também aumenta a velocidade da reação de hidratação do cimento, resultando na perda da trabalhabilidade do concreto durante o seu transporte, o que leva à necessidade de água adicional para que atinja o abatimento especificado para a obra.”
- é o que diz a ABNT NBR 7212/2012.
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Adicionar mais água ou água gelada ao concreto seria a solução correta?
Bem, a resposta para esta pergunta pode ser mais complicada do que parece. Uma coisa é certa, não se pode adicionar mais água além do previsto na mistura do concreto, assim como não se pode colocar mais leite na massa de um bolo. Tudo deve ser calculado pelo especialista! Qualquer ação baseada em achismos é um erro que pode comprometer o resultado da estrutura!
Em dias muito quentes, por exemplo, o que se pode fazer é utilizar aditivos para desacelerar a perda de água no concreto. Umedecer as fôrmas antes da concretagem também ajuda. Assim como controlar a unidade ambiente com nebulização.
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O que alguns profissionais fazem para amenizar o problema é substituir parte da água na “receita” por gelo – em pedaços pequenos - ou nitrogênio líquido. Ou mesmo utilizar serpentinas ou pequenas tubulações com água gelada dentro do concreto – permanecendo dentro dele, mesmo finalizado o endurecimento. Mas voltamos a dizer que isto é algo que deve ser avaliado e planejado por um especialista em estruturas!
Já sabia dessas curiosidades sobre o processo de concretagem? Deixe seu comentário!
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Fontes: Cimento Itambe, Mapa da Obra, AECWeb, Portal do Concreto, TecnosilBR.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.