Graças aos biocombustíveis, o Brasil tem grande visibilidade como um país que valoriza as matrizes energéticas nacionais e a sua grande diversidade. No caso do biodiesel, foi por volta dos anos 80 que uma empresa nacional obteve patente para produção do combustível, a cearense Proerg (Produtora de Sistemas Energéticos).
O início dos óleos
Já sabemos sobre a crise energética mundial que estamos vivendo desde o início da década de 70, mas nem por isso os estudos de fontes renováveis iniciaram no mesmo período em que o petróleo se tornou uma preocupação.
Foi aproximadamente na década de 1920 que o Brasil deu início ao uso de óleos vegetais como combustíveis. Após esse “start”, nos anos 50, diversos centros de pesquisa nacionais passaram a investir e desenvolver estudos em novos óleos como o de mamona, o de algodão e o de ouricuri, aplicados em motores de 6 cilindros movidos a diesel. Apesar disso, foi somente na década de 70, com o grande impacto sofrido pela dependência do petróleo, que houve um avanço nos estudos.
Em 1980 o Conselho Nacional de Energia instituiu o Proóleo (Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos), a fim de não somente promover pesquisas sobre os óleos vegetais em todas as regiões do Brasil, mas principalmente avançar nos estudos de substituir o óleo diesel (advindo do petróleo) por óleos vegetais em misturas de até 30% em volume. Com isso, nesse mesmo período foi dada maior atenção ao girassol, à soja, ao amendoim e, posteriormente, ao dendê.
O uso de óleos vegetais como combustível partiu desse propício cenário e foi ainda mais estimulado com a criação do Programa Nacional de Alternativas Energéticas Renováveis de Origem Vegetal, comprovando tecnicamente a capacidade do uso desses óleos em motores ciclo Diesel. Com o auxílio e colaboração de grandes empresas e do governo, foram realizados testes com as matérias-primas mais disponíveis da época, que no caso eram misturas de 30% de éster metílico de óleo de soja, como também testes com ésteres puros (metílico e etílico).
Após a comprovação de viabilidade e o cenário crítico mundial, na década de 2000, o governo percebeu a importância de promover o estudo e a pesquisa nesse nicho, e então criou o Programa Nacional de Produção de Biodiesel no Brasil, dando incentivo e obrigando as empresas a adicionarem 2% de biodiesel no óleo diesel vendido no país a partir de 2008, sendo este percentual aumentado anualmente, atingindo 5% em 2010. Existem metas de aumento gradual dessa porcentagem para 20%.
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E então, o que é o Biodiesel?
Inicialmente, é importante entendermos a aplicação do biodiesel no cenário em que vivemos. Contudo, precisamos associar de forma clara qual o real benefício deste combustível e, para isso, é necessário que saibamos onde e como é aplicado.
Um motor de combustão interna (MCI) é uma máquina que transforma energia térmica em mecânica. Sendo mais específica, no MCI de ciclo Diesel, apesar de ter funcionamento bastante semelhante ao conhecido ciclo Otto, a queima do combustível se inicia durante a sua fase de compressão, sem a necessidade de utilização da vela de ignição. Quando o engenheiro alemão Rudolf Christian Karl Diesel inventou o motor Diesel, ele utilizava óleo de amendoim (um biodiesel) para fazer seus testes. Contudo, posteriormente perceberam que a destilação do petróleo líquido entre 200°C e 350°C gerava um óleo com maior potencial energético que o de amendoim, o gasóleo ou óleo diesel.
Como combustível, mesmo não sendo tão utilizado como a gasolina, o Diesel é muito mais adaptável a veículos com MCI’s que desejam mais força e desempenho do que na velocidade em si, devido à sua alta densidade de energia.
Apesar das excelentes vantagens, a combustão incompleta do diesel libera óxidos de carbono e outros compostos poluentes para a atmosfera, gases esses que são grandes responsáveis pela maioria dos problemas relacionados ao aquecimento global, destruição da camada de ozônio, fenômenos como a chuva ácida, além de prejudicarem o ecossistema. E é nesse ponto que destacamos o biodiesel.
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Conforme já explicado, o biodiesel se torna menos nocivo ao meio ambiente pelo fato de poder ser extraído de gorduras provenientes de vegetais, sendo assim também uma energia renovável, diferentemente diesel comum. Mas, os biodieseis são combinados com alguns alcoóis para formação de ésteres e assim serem usados como combustíveis: ele pode ser utilizado diretamente em motores diesel? Sim, bastam apenas algumas pequenas modificações em certos casos, sem correr o risco de causar qualquer tipo de dano ao motor.
Cada 100 kg de óleo reagem com 10 kg de álcool, gerando em média 100 kg de biodiesel e 10 kg de glicerina (que geralmente é utilizada para fabricação de sabonetes).
É importante ressaltar que o biodiesel pode ser usado em diversos processos, sejam industriais, como para ativação de motores de caldeiras, ou até para a geração de energia elétrica em comunidades carentes, e não somente como combustível em motores automotivos.
Nos postos do Brasil ainda não é possível encontrar o B100 (biodiesel 100%), contudo, o combustível misturado à gasolina, ao etanol e, como já foi falado, ao próprio diesel, é permitido pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), desde que não ultrapasse 12%. Recentemente, a diretoria da ANP, com a concordância do Ministério de Minas e Energia (MME), aprovou no dia 16/06/2020 a redução excepcional e temporária do percentual de mistura obrigatória do biodiesel ao óleo diesel dos atuais 12% para 10%. A medida é necessária para dar continuidade ao abastecimento nacional, uma vez que as entregas de biodiesel previstas para o período citado poderiam não ser suficientes para atender à mistura de 12% ao diesel B, que vem sendo bastante consumido, apesar da atual situação de pandemia.
Para quem não sabe, o diesel tipo a A é aquele produzido nas refinarias, destinado a veículos rodoviários dotados de motores do ciclo diesel e que não possuem a adição de biodiesel. Já o óleo diesel tipo B possui biodiesel adicionado no teor estabelecido pela legislação vigente.
Mas se é tão bom, o qual o desafio?
Assim como o etanol, o biodiesel é produzido por meio da agricultura, e a cada dia são demandadas mais terras para essa produção, o que pode levar ao desflorestamento, cuja consequência é a diminuição da absorção do gás carbônico, perda de biodiversidade e também pode impactar no consumo de água para irrigação da plantação.
O Brasil está em terceiro lugar entre os maiores produtores mundiais de biodiesel, atrás da Alemanha e dos EUA, mesmo sendo o país com maior potencial para produção de energia renovável. Ainda precisamos de bastante incentivo a fim de utilizar o biodiesel de fato, pois, atualmente não o temos para utilização sendo plenamente um combustível renovável, apenas como combinação com outras fontes.
Porém, o biodiesel se mostra vantajoso para alavancar o agronegócio e a agricultura familiar, seja no plantio de soja ou de qualquer outra fonte de bioenergia.
Por fim, o biodiesel se reafirma uma energia limpa e eficiente no combate da utilização e o consumo do petróleo, bem como dos nocivos problemas ambientais como o efeito estufa.
E então, o que você pensa sobre a utilização do biodiesel no nosso cotidiano? Compartilhe sua opinião nos comentários, engenheiro (a)!
Veja Também: Combustíveis Sustentáveis: conheça mais sobre o etanol
Fontes: Potencial Biodiesel; Anap; Brasil Total, APROBIO, Royal FIC, Ecycle
Comentários
Giovanna Teodoro
Engenheira Mecânica e Pós Graduanda em Gerenciamento de Projetos. Mineira curiosa que se divide entre a engenharia, a leitura, a escrita e a música. Não carrego certezas, mas sigo querendo aprender.