Engenharia 360

Califórnia, no caminho da sustentabilidade: coleta de resíduos e reciclagem

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por Júlia Sott
| 16/12/2019 | Atualizado em 30/06/2022 6 min
(Imagem: @juliawsott)

Califórnia, no caminho da sustentabilidade: coleta de resíduos e reciclagem

por Júlia Sott | 16/12/2019 | Atualizado em 30/06/2022
(Imagem: @juliawsott)
Engenharia 360

Nesse segundo artigo sobre o modo sustentável que o estado da Califórnia está inserido, mostraremos como ocorrem a disposição, coleta e reciclagem do lixo domiciliar na sociedade americana. 

Primeiro de tudo: os americanos produzem MUITO lixo! Tudo aqui é industrializado. A maioria das saladas já vem em recipientes de plásticos. Cebola, alho e tomate já picados dentro de potes. Até ovo cozido dentro de embalagens eles vendem. É muito doido!  

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Contudo, por outro lado, grande parte desses recipientes são reciclados e reutilizados! Aqui na casa da minha host family há 4 tipos de lixeira na cozinha! Um para restos de comida que eles chamam de composto, um só para papéis, outro para recipientes de plástico/vidro/metais e o último para materiais que não são possíveis de reciclar, o verdadeiro lixo.

Olha que demorou mais de mês para eu me acostumar com esse sistema! Cada vez eu tinha que pensar onde eu deveria colocar meu lixo e muitas vezes me confundia.

coleta de resíduos 4 tipos de lixeira | reciclagem
(Imagem: @juliawsott)

Já ouvi de casas que não havia o composto, mas as outras separações geralmente ocorrem aqui na Califórnia! Em Nova York, por exemplo, visitei uma casa onde só havia 1 lixo para tudo, e o lixo orgânico eles jogavam tudo na pia! Mas como assim na pia? Aqui nos Estados Unidos, praticamente em todas as casas há o triturador de elementos orgânicos, que tritura restos de comida e até ossos, que se juntam então à rede de esgoto.

Mas voltando a falar da Califórnia, toda sexta-feira aqui em Mountain View acontece a coleta dos resíduos. O processo é o seguinte: além das 4 lixeiras na cozinha, eles têm mais 3 lixeiras na casa para colocar esses resíduos para serem coletados, que é uma espécie de carrinho com rodinhas para facilitar o transporte.  

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Na garagem se encontra a lixeira para os materiais recicláveis, e no pátio fica a lixeira para o composto e para o lixo. Na quinta-feira de noite ou na sexta de manhã eles levam essas 3 lixeiras de rodinhas para a frente da casa para que os caminhões façam a coleta. É uma maneira muito interessante, pois tirando sexta-feira, você não vê lixo na frente das casas diferente do sistema que temos no Brasil. 

coleta de resíduos lixeira
Lixeira dos materiais recicláveis (Imagem: @juliawsott)
coleta-de-resíduos lixeiras
Imagem: @juliawsott
coleta-de-resíduos-caminhão
Imagem: @juliawsott

A CalRecycle (Department of Resources Recycling and Recovery) apresenta esse fluxograma do sistema de coleta de resíduos:

coleta-de-resíduos-fluxograma
Imagem: CalRecycle

O que é CalRecycle?

A CalRecycle administra e supervisiona todos os programas de reciclagem e manuseio de resíduos não perigosos administrados pelo estado da Califórnia. Conhecida principalmente por supervisionar recipientes de bebida e reciclagem de lixo eletrônico, também é responsável pela gestão de produtos orgânicos, pneus, óleo de motor, tapete, pintura, colchões, recipientes de plástico rígido, papel de jornal, resíduos de construção, de demolição e de alimentos. A visão deles é inspirar e desafiar os californianos a alcançar os mais altos objetivos de redução de resíduos, reciclagem e reutilização no país.

Eles também fornecem treinamento e suporte contínuo às agências locais de aplicação da lei, que regulam e fiscalizam os aterros de resíduos sólidos ativos e fechados da Califórnia, bem como instalações de recuperação de materiais, estações de transferência de resíduos sólidos e instalações de compostagem. 

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A CalRecycle tem um orçamento de aproximadamente $1,4 bilhões, incluindo o Fundo de Reciclagem de Recipientes de Bebidas de $ 1,1 bilhões. Outro financiamento é proveniente de taxas de reciclagem de novos eletrônicos, pneus e óleo usado, além de taxas de descarte cobradas por aterros sanitários. Grande parte desse dinheiro é devolvido à economia por meio de pagamentos e doações à indústria e às jurisdições locais em apoio à redução de resíduos, reciclagem e descarte seguro, e o restante cobre o orçamento operacional anual da CalRecycle. 

Em 2016, a Califórnia gerou 76,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos e enviou cerca de 35,2 milhões de toneladas para aterros, o que se traduz em uma disposição per capita de 2,7 Kg/dia. O estado tem alguns dos programas de reciclagem e reutilização de produtos mais bem-sucedidos do país e desviou cerca de 63% de seus resíduos sólidos dos aterros sanitários em 2016. 

Em 2016, eles coletaram 44% de seus resíduos sólidos para reciclagem e exportaram cerca de dois terços desse material para países estrangeiros para reciclagem e remanufatura. Em 2016, foram exportadas 15 milhões de toneladas de materiais recicláveis e 62% desse material foram enviados para a China. 

Todavia, como resultado de algumas proibições e limitações na China e no sudeste asiático, as instalações de resíduos sólidos e as estações de transferência na Califórnia estão enfrentando dificuldades para mover os materiais uma vez exportados com facilidade. A necessidade de uma infraestrutura doméstica robusta de reciclagem nunca foi tão relevante. 

No que diz respeito a resíduos orgânicos -materiais como folhas, grama, resíduos de colheitas agrícolas e restos de comida- eles podem ser utilizados para adubos, cobertura vegetal e em biocombustível.  Isso já está acontecendo na Califórnia, mas como os orgânicos são uma porção tão grande do fluxo de resíduos (cerca de um terço), é preciso fazer mais, pelo fato de que quando aterrados, os resíduos orgânicos geram metano, um super poluente a ser evitado. 

E no Brasil?

A professora de saneamento básico e engenharia ambiental da UNIJUI, Joice Viviane de Oliveira, compartilhou com o Engenharia 360 a atual situação de coleta de resíduos no nosso país:

O grande marco referente a gestão de resíduos sólidos no Brasil ocorreu em 2010, ano em que foi sancionada a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Segundo a legislação, a implantação da coleta seletiva é obrigatória nos municípios. Sendo assim, a separação em, no mínimo, duas frações de resíduos seria necessário. A norma indica, no entanto, que os resíduos domiciliares possam ser divididos em: resíduos recicláveis, resíduos compostáveis e rejeitos. Os dois primeiros seriam passíveis de reaproveitamento para outras finalidades, o primeiro através da coleta seletiva e o segundo por meio da aplicação da compostagem. Já o rejeito seria encaminhado para destinação final adequada, como aterros sanitários.

A gestão dos resíduos, considerando ainda os conceitos da Logística Reversa, observa-se na figura abaixo as principais etapas da gestão:"

coleta-de-residuos-fluxograma
Imagem: Conke

Exposta a previsão da norma, passamos a apontar como ocorre na prática. Segundo dados do SNIS – Sistema Nacional de Informações de Saneamento, em 2017, 91,7% da população total brasileira dispunha de coleta de resíduos sólidos domiciliar de forma regular, sendo que a coleta seletiva estava presente em 22,5% dos municípios do Brasil.

Se um dos problemas é a não disponibilidade do serviço de coleta para toda a população, outro panorama grave está na orientação e educação do usuário, quando a coleta seletiva é oferecida para o usuário. Mesmo nos municípios onde a coleta seletiva é disponibilizada para os moradores, o nível de separação ainda está muito aquém do esperado. A recuperação de resíduos recicláveis e o valor de mercado praticado na compra destes materiais é um dos percalços da cadeia da reciclagem.

A presença marcante de catadores tanto nas ruas, quanto organizados em associações e cooperativas é uma realidade brasileira. Estas pessoas, na maioria das vezes, trabalham na informalidade e recebem valores que ficam abaixo do necessário para a subsistência de uma família.

coleta-de-residuos-catadores
Imagem: O Globo

Quanto a forma de acondicionamento dos resíduos para a coleta, pode-se dizer que são diversas, sendo a mais avançada os contêineres subterrâneos instalados em espaços específicos, como em algumas cidades de São Paulo. Alternativa também bastante utilizada no Brasil, em especial em cidades de médio e grande porte, é o contêiner disposto na via pública ou passeio. Esta opção torna o serviço de coleta mais seguro, pois o coletor não precisa se deslocar no meio da via como em uma “caçada ao lixo”. Além disso, tende a padronizar o local e forma de disposição do resíduo. No restante do Brasil, ainda predomina a lixeira sem padronização ou até mesmo a disposição de resíduos no chão ou pendurado em árvores até a coleta pelo veículo especializado.

A frequência da coleta depende da quantidade de moradores e movimentação de pessoas no local, podendo ser alternada ou diária. Situação problemática no Brasil está, também, na questão da disposição final. Observa-se que, segundo SNIS (2017), 42,20% das unidades de recebimento de resíduos que estavam em operação eram considerados lixões ou aterros controlados. Cabe ressaltar que tanto os lixões quanto os aterros controlados estão proibidos pela legislação vigente.

Estes dados possibilitam visualizar parte do panorama da situação da gestão dos resíduos sólidos no Brasil. Este setor ainda requer investimentos e ações efetivas por parte da sociedade e do poder público.


Fontes: CalRecycle; Conke/Nascimento; SNIS

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Júlia Sott

Engenheira Civil, formada pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS; estudou também na Stanford University; passou um período trabalhando, estudando e explorando o Vale do Silício, nos Estados Unidos; hoje atua como analista de orçamentos ajudando a implantar novas tecnologias para inovar na construção civil.

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