Trabalho com cimento não é fácil! Aliás, o cimento é um dos materiais mais usados na construção civil e, por isso mesmo, pode parecer “inofensivo”. Mas não se engane: o contato constante com esse pó esconde perigos que vão muito além da sujeira das roupas ou do incômodo nos olhos.
Para quem está entrando no mercado da engenharia ou sonha em trabalhar em obras, entender os riscos do cimento e como se proteger é essencial para ter uma carreira saudável e longe de complicações. Neste artigo do Engenharia 360, vamos mergulhar nos detalhes que a maioria ignora, mas que fazem toda a diferença na vida de pedreiros e construtores. Acompanhe!
O que acontece quando o cimento entra em contato com a pele?
O cimento tem propriedades higroscópicas, ou seja, absorve água. Quando encosta na pele, ele “rouba” a umidade natural, deixando-a seca, áspera e, com o tempo, rachada. Esse processo causa as chamadas “lesões indolentes”, fissuras que podem evoluir para infecções secundárias se não forem tratadas.
Não para por aí: unhas também ficam mais quebradiças, e quem transpira muito tende a ter reações ainda mais intensas, principalmente no verão. Esse quadro pode ser confundido com outras doenças comuns em canteiros de obras, como a chamada “sarna dos pedreiros”, causada por ácaros em locais com pouca higiene.

O cimento é insalubre ou não?
Existe muita polêmica em torno da insalubridade do cimento. Apesar de causar alergias e reações na pele, sua alcalinidade não vem de compostos cáusticos proibidos pelas normas de segurança (como hidróxidos de cálcio e potássio). O que realmente existe são os alcalino-terrosos, que geram uma alcalinidade considerada fraca ou média.
Segundo normas da ABNT, isso não classifica o cimento como insalubre por si só. Mas isso não significa que ele seja inofensivo — pelo contrário, sua ação contínua pode provocar sérios problemas dermatológicos.
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Verdade ou mito: o cimento tem cromo?
Antigamente, acreditava-se que a dermatite causada pelo cimento estava ligada ao cromo, já que as esferas de metal usadas nos moinhos liberavam resíduos desse elemento químico. Estudos recentes mostraram que, pelo menos no Brasil, a quantidade de cromo no cimento é mínima e não justifica os casos de alergia.
Por isso, especialistas recomendam sempre pedir análises químicas antes de alegar insalubridade por cromo. O grande vilão, na prática, são mesmo os fatores físicos e químicos do próprio cimento, aliados à exposição constante.

Fatores que aumentam os riscos
A reação do corpo ao cimento não depende apenas do material em si. Outros elementos podem piorar a situação, como:
- Ambiente: calor, frio, insolação ou umidade podem intensificar as reações alérgicas.
- Características do cimento: microtraumas pelo atrito, absorção de umidade e sensibilização imunológica.
- Hábitos pessoais: descuido com higiene, uso incorreto de EPI ou até roupas molhadas em contato com o cimento.
Um erro comum é colocar a boca da calça dentro do cano da bota. Parece prático, mas facilita a entrada do cimento e aumenta o tempo de contato com a pele.
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Como a tecnologia ajuda a proteger o trabalhador
Hoje, felizmente, o cenário é diferente de algumas décadas atrás. Máquinas modernas enclausuradas, sistemas de ventilação local exaustora e técnicas de aplicação mais seguras diminuem bastante a exposição ao cimento.
Isso mostra como a engenharia não evolui apenas para erguer arranha-céus ou pontes impressionantes, mas também para proteger quem faz a obra acontecer.
O papel da higiene e dos cuidados diários
Mais do que tecnologia, pequenas atitudes no dia a dia fazem toda a diferença:
- Banhos obrigatórios após o expediente: removem resíduos de cimento e evitam que o pó continue agindo sobre a pele.
- Troca diária de roupas limpas: reduz o contato prolongado com poeiras acumuladas.
- Uso de hidratantes e lanolina: antes e depois de colocar luvas, ajudam a recuperar a barreira natural da pele.
Quando afastar ou mudar de função?
Nem todos os trabalhadores reagem da mesma forma ao cimento. Alguns são mais resistentes, enquanto outros desenvolvem alergias severas. Nesses casos, a recomendação é clara: afastamento imediato e tratamento médico.
Se a pessoa não puder continuar no contato direto com o cimento, deve ser realocada em outra atividade dentro da obra. Isso evita problemas de saúde crônicos e garante que o trabalhador continue produtivo sem riscos desnecessários.
EPIs: a barreira que muitos insistem em ignorar
É impossível falar de segurança sem citar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Para o trabalho com cimento, os mais importantes são:
- Luvas adequadas (com material resistente à alcalinidade e à abrasão).
- Óculos de proteção para evitar contato do pó com os olhos.
- Máscaras e respiradores para reduzir inalação de partículas.
- Botas fechadas e roupas longas para diminuir a exposição da pele.
Apesar de parecer óbvio, muitos trabalhadores resistem ao uso desses equipamentos, alegando desconforto ou calor. Mas a verdade é que os EPIs são a linha final de defesa contra os efeitos silenciosos do cimento.

Por que esse tema é tão importante para jovens engenheiros?
Se você está no início da carreira, pode pensar que segurança do trabalho é assunto “burocrático” ou restrito a técnicos em SST. Mas a realidade é que engenheiros têm papel direto na criação de ambientes seguros.
Saber identificar riscos, exigir equipamentos adequados e orientar a equipe não é apenas cumprir normas — é proteger vidas e garantir que a obra seja produtiva sem sacrificar a saúde de ninguém.
Fonte: Blog Laercio Silva.
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As propriedades higroscópicas do cimento e a presença de compostos complexos de metais, são os responsáveis pelas manifestações de sensibilidade sobre a pele de alguns trabalhadores – reações de caráter imunológico e não como um irritante primário como alguns querem fazer crer. Também pode haver um mecanismo físico de micro traumas atribuído ao atrito do material particulado que é próprio do cimento.
A ação do cimento é resultante da alcalinidade de silicatos, aluminatos e sílico- aluminatos que o constitui. Essa alcalinidade que não chega a ser agressiva é que propicia sinergicamente, as condições para instalação de um processo de sensibilidade ou seja uma condição alérgica.
É bom frisar que esta alcalinidade não é devida aos alcalis cáusticos, propiciadores de insalubridade e representado pelos hidróxidos de cálcio e potássio que não estão presentes no cimento. Os alcalino-terrosos, esses sim presentes no cimento e dos quais decorre sua alcalinidade média ou fraca, em função de seu grau de ionização, não estão contemplados como insalubres nas normas legais (NR-15 anexo 13).
Quando o cimento com pouco teor de umidade entra em contato com a pele de portadores de sensibilidade e não é logo removido, absorve umidade e após algum tempo torna a pele seca, enrijecida e espessa. Somente a habitualidade deste contato torna a pele frágil resultando em fissuras e rachaduras denominadas de “lesões indolentes”, nas quais podem ocorrer infeções secundárias.
O contato do cimento com as unhas faz as mesmas ficarem mais secas e quebradiças, o que também ocorre com a maioria das substâncias químicas usuais no trabalho e no lar. Também pode provocar sensibilidade na conjuntiva ocular e pequenas manifestações na mucosa nasal e oral quando o trabalhador não recebe ou não quer usar proteção adequada. Entre trabalhadores com muita sudorese o cimento geralmente causa uma reação alérgica mais intensa, principalmente na parte mais exposta do corpo. Acontece mais no verão que no frio e é necessário distingui-la da chamada “sarna dos pedreiros” muito comum em acampamentos de obras e que pode estar associada a presença de ácaros comuns nessa época e nesses locais, por falta de manutenção sanitária por parte de empreiteiras.
O cimento úmido pode dar o mesmo tipo de manifestação.
Trabalhos mais antigos sempre fazem referência a possibilidade da dermatite ser devida a uma sensibilidade adquirida aos compostos de cromo, que faziam parte da liga das bolas de metal dos moinhos de trituração dos componentes do cimento. Estudos feitos em alguns países, mostraram que é improvável que a incidência de dermatoses seja devida ao conteúdo de cromo já que sua presença é irrisória. Pôr isso é aconselhável que em solicitações de insalubridade pela presença de cromo no cimento, seja solicitada sua dosagem. Em muitas das amostras que tenho mandado pesquisar não se comprovou a presença de cromo nos cimentos brasileiros em análise.
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Redação 360
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