‘Cemitério de Impérios’, assim é, por alguns, chamado o território do Afeganistão.
Recentemente, assistimos com perplexidade o desespero de milhares de afegãos amedrontados com a volta do Talibã, temendo que o país mergulhe em um novo retrocesso social e em um caos econômico. As cenas divulgadas na imprensa internacional foram extremamente chocantes. Pessoas se dependurando e até caindo de aeronaves, enquanto um mar de carros ficavam presos nas rodovias. Realmente, algo que jamais sairá da nossa memória, assim como o 11 de Setembro.
Mas o que os Estados Unidos tem a ver com isso? Bem, quem tem mais de trinta anos de idade, com certeza, tem uma lembrança ainda muito forte dos acontecimentos de vinte anos atrás. Contudo, poucos se lembram de como era o Afeganistão antes disso. E, mais, como era a situação das mulheres, inclusive na Engenharia, antes do avanço do Talibã no país. Descubra no texto a seguir!
Localizando o Afeganistão no mapa
Sem saída para o oceano e caracterizado por regiões montanhosas, o Afeganistão é um país historicamente importante nas rotas comerciais e disputas políticas da Ásia. Ele é vizinho de países com poderio nuclear como o Paquistão e a China, fronteira com o Irã, Turcomenistão, Uzbequistão e Tajiquistão. Por isso tem grande importância geopolítica! Ou seja, poderia ser uma grande potência econômica mundial!
Entretanto, o terreno montanhoso do Afeganistão tem facilitado a operação de grupos guerrilheiros e dificultado a ação de tropas invasoras. Seu território está sempre sofrendo com disputas, culminando com a invasão pelos soviéticos em dezembro de 1979 a pretexto de combater os guerrilheiros islâmicos que ameaçavam levar às repúblicas soviéticas sua luta santa em nome do Islã. A saber, um dos territórios desmembrados da antiga União Soviética é a Rússia, que ontem, junto da China, acenou a favor do próprio Talibã - vai entender.
Agora, o temido grupo extremista está de volta ao comando do Afeganistão, dominando a capital Cabul vinte anos após ser expulso pelas tropas dos Estados Unidos e o presidente Ashraf Ghani abandonar o governo e fugir rumo ao Tajiquistão.
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Entendendo a presença das tropas americanas no país
Em 1996, o grupo fundamentalista sunita Talibã tomou o controle da capital, Cabul, e impôs um regime extremista no país. Anos depois, vários atentados terroristas foram atribuídos aos seus líderes. Os piores foram aqueles ocorridos no dia 11 de Setembro de 2001, com Osama Bin Laden mentor dos ataques às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York.
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Depois disso, no mesmo ano, os norte-americanos agiram contra o Talibã se juntando à Aliança do Norte para unir a população e combater o grupo extremista. O governo instalado em seguida, reconhecido internacionalmente e com uma nova Constituição adotada em 2004, teve muitas dificuldades em estender sua autoridade além de Cabul e forjar uma união nacional. No final do governo Obama, foi reduzido o contingente militar americano. E em 2017, sob o governo de Donald Trump, os Estados Unidos e o Talibã assinaram um acordo que previa a retirada completa, em 14 meses, das tropas americanas e da Otan do território afegão.
Em julho deste ano, os soldados dos Estados Unidos deixaram a base aérea de Bagram e entregaram o espaço para a administração do governo afegão. O resultado já estamos vendo pela TV e Internet!
Consequências para as mulheres afegãs
O que se pode esperar de um grupo extremista? O que o Talibã diz é que "vai respeitar direitos das mulheres que estão previstos na lei islâmica". Mas como é esse tipo de respeito que eles falam? Já horas após tomar Cabul, imagens de publicidade com fotos de mulheres começaram a ser retiradas das fachadas das lojas. A saber, de acordo com a ONU, hoje cerca de 80% das pessoas do Afeganistão que tiveram que deixar suas casas é de mulheres e crianças. Podemos imaginar o desespero!
Antes dos anos 90, 70% dos professores no país eram mulheres. Elas dominavam também 50% dos cargos públicos e de vagas no ensino superior, 15% no legislativo, e tinham direito a voto. Ou seja, as afegãs viviam livremente até que o Talibã chegou nos anos noventa, as forçando a usar burca, restringindo a sua educação e ameaçando com punições brutais, incluindo execuções públicas, como apedrejamento e amputações. Essa é a versão da sharia, a lei islâmica - o tal respeito que eles falam!
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Protótipo de respirador
Esse cenário foi de total retrocesso para o Afeganistão! Certamente, agora, veremos mais uma fase de censura, para a alegria dos conservadores religiosos. E isso irá, sem sombra de dúvidas, afetar também a atuação das mulheres na Engenharia. E olha que em abril deste ano, um grupo só de meninas afegãs desenvolveu um ventilador para ajudar no tratamento de pacientes com covid e foram parar na lista "Under 30"da Forbes.
As jovens projetaram um robô de baixo custo, usando peças de motor e baterias de um Toyota Corolla. Elas tentavam aprovação do governo para a produção do protótipo por apenas 300 dólares a unidade, 100 vezes menos do que os valores normais de venda de respiradores no Afeganistão. Esse trabalho contou a ajuda de especialistas da Universidade de Harvard, com base em um projeto do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), sendo as estrelas as garotas do ensino médio de alto desempenho, conhecidas como as "sonhadoras afegãs", da cidade de Herat. Detalhe: o grupo ganhou destaque na imprensa em 2017, quando lhes foi negado o visto para participar de uma competição de robótica em Washington, antes de o presidente Donald Trump intervir e permitir que viajassem.
Qual o destino que essas mulheres terão sob o regime do Talibã?
Bem, vamos pegar como exemplo como era a vida das mulheres nos anos que antecederam a invasão pela coalizão. Naquela época, as meninas não podiam estudar, as mulheres não podiam trabalhar e nem mesmo sair de casa se não estivessem acompanhadas de um parente. Além dessas regras relativas a mulheres, os talibãs também faziam execuções públicas e, como medida de punição, cortavam as mãos de quem eles diziam ser ladrões.
Fontes: Quebrando o Tabu, O Globo, G1, BBC.
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Simone Tagliani
Graduada nos cursos de Arquitetura & Urbanismo e Letras Português; técnica em Publicidade; pós-graduada em Artes Visuais, Jornalismo Digital, Marketing Digital, Gestão de Projetos, Transformação Digital e Negócios; e proprietária da empresa Visual Ideias.