Engenharia 360

O que um estribo de cavalo tem a ensinar sobre inovação e criatividade?

Engenharia 360
por Gilberto Strafacci Neto
| 15/06/2017 | Atualizado em 17/07/2024 5 min
Imagem de Phil Hodkinson em Unsplash

O que um estribo de cavalo tem a ensinar sobre inovação e criatividade?

por Gilberto Strafacci Neto | 15/06/2017 | Atualizado em 17/07/2024
Imagem de Phil Hodkinson em Unsplash
Engenharia 360

Ao longo da história, diversas invenções disruptivas surgiram, alterando para sempre a forma como vivemos, trabalhamos e interagimos com o mundo. Entre elas, o estribo, se destaca como exemplo de inovação e criatividade, um marco fundamental, revolucionando a montaria e abrindo caminho para novas táticas de guerra.

Embora pareça um objeto simples, o estribo teve um impacto profundo na sociedade, influenciando desde a agricultura e o transporte até a organização militar e as estruturas de poder. Sua história nos convida a explorar o poder da criatividade, da resolução de problemas e da memória coletiva na busca por soluções inovadoras. Saiba mais no artigo a seguir, do Engenharia 360!

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estribo de cavalo ensino sobre inovação e criatividade
Imagem de Tim Schmidbauer em Unsplash

As origens humildes de um gigante

Durante toda a antiguidade até cerca do século IV d.C., as pessoas montavam a cavalo com uma simples manta, sem equilíbrio algum. Por volta do século V d.C., esta invenção chinesa chegou ao ocidente, por Bizâncio, adotada pelos francos, posteriormente. E a inovação disruptiva foi tamanha que, dizem alguns, foi a responsável pela introdução do feudalismo na Europa.

O que antes levava anos para se aprender - montar em um cavalo em pelo, sem cair o tempo todo, e usá-lo em batalha -, agora se fazia em 3 ou 4 meses. O estribo introduziu um novo modelo, um novo comportamento e mudou não só a forma de se montar um cavalo, mas toda forma de ensino de montaria e a estrutura dos exércitos daqueles tempos.

Aliás, assim como o estribo, existem diversos exemplos de inovações e invenções que passam a ideia de que o processo de criação disruptivo é pontual, individual, não incremental e totalmente pautado por um momento de iluminação ou genialidade. 

Pensar inovações desta forma torna a criatividade um mistério. Como muitas pessoas perderam a solução para um problema por tanto tempo? E como, de repente, uma pessoa primeiro apresentou essa solução?

estribo de cavalo ensino sobre inovação e criatividade
Imagem de Surface em Unsplash

A memória coletiva e o processo de inovação

Na verdade, a maioria das pessoas que criam soluções criativas para problemas dependem de um método relativamente direto: encontrar uma solução dentro da memória coletiva das pessoas que já trabalharam no problema. Ou seja, alguém que trabalha para resolver o problema sabe algo adicional, porém suficiente para resolver a equação e que será definitivo para encontrar uma primeira solução viável – só não sabemos isso no início.

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A memória humana é configurada de forma a encontrar uma informação que serve como sugestão para recuperar outras coisas relacionadas. Se eu pedir para você imaginar uma festa de aniversário, você pode recuperar rapidamente informações sobre as festas de aniversário que você participou. Além disso, provavelmente poderá pensar em chapéus de festas, bolo e cantar "Feliz aniversário". Então, precisará gastar muita energia para recordar essa informação; isso emerge como resultado da sugestão inicial.

Por outro lado, se você quiser recuperar outra coisa da memória, precisa alterar a sugestão. Peço que pense em salada e provavelmente pode lembrar as informações sobre alface, tomate e temperos, mesmo que esteja pensando em festas de aniversário há apenas um minuto.

Ao buscar a resolução de problemas criativos, a afirmação do problema é a sugestão da memória, ou seja, o ponto de partida que gera as analogias e comparações. Para gerar uma variedade de soluções possíveis para um problema, então, o solucionador de problemas deve alterar a descrição do problema de maneira que levem novas informações a serem extraídas da memória.

Boas soluções e inovações disruptivas resolvem vários problemas ao mesmo tempo. Ou seja, são geradas com base em diversas frentes de pensamentos que ocorreram simultaneamente ou não.

Por que o estribo é o paradigma há mais de 15 séculos de como se montar em um cavalo? Porque além de facilitar a montagem, possibilita o maior controle do animal, gera maior equilíbrio e apoio ao cavaleiro, possibilita assumir uma posição com os joelhos esticados, o que favorece um possível ataque com armas.

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Você precisa saber exatamente o que perguntar

São várias perguntas a serem respondidas e soluções anteriores que foram abandonadas ou aplicadas parcialmente, pois possivelmente resolviam somente parte do problema. Sem contar que a inovação ocorre no momento que deve ocorrer!

Possivelmente havia no passado uma demanda por utilização dos cavalos em batalhas e treinamentos mais rápidos. O cavalo era a principal forma de transporte e diversos especialistas estavam dedicados a pensar sobre o tema. Conjuntamente, ferreiros avançavam na forma de conformação de metais e outros artesões aperfeiçoaram a forma da cela do cavalo que, em conjunto com o estribo, gerou uma condição ganha ou ganha.

estribo de cavalo ensino sobre inovação e criatividade
Imagem de Firmbee.com em Unsplash

Exemplo de caso

O iPad foi o primeiro tablet a ganhar escala comercial e foi considerada por muitos uma inovação disruptiva. Porém, vale lembrar que o primeiro grande lançamento desses dispositivos foi feito pela Microsoft em um grande evento realizado em 2002, quando apresentou o Tablet PC com Windows XP.

A base conceitual do tablet e a demanda por mobilidade já existia. Mas as condições eram desfavoráveis: a tecnologia das baterias com pouca autonomia, a internet ainda dependente de ligação com cabos (sem wifi) e o excesso de peso eram tecnologias adicionais que ainda não estavam totalmente maduras.

Qual a diferença entre o Tablet PC e o iPad? O iPad resolvia mais problemas ao mesmo tempo. Qual dos produtos foi mais inovador? Com certeza o Tablet PC, afinal foi o primeiro. Qual deles foi disruptivo? Essa nem preciso responder.

Lições para o futuro

Voltando ao exemplo original: muitos problemas são resolvidos pelo estribo. Dessa forma, a próxima solução disruptiva deve olhar o problema por vários lados, considerando a memória dos pequenos avanços preliminares que já existem.

1. Grupos mais consistentes e criativos

São aqueles que encontram muitas maneiras diferentes de descrever o problema a ser resolvido e conseguem integrar inovação às soluções já existentes.

Não busque o ineditismo, mas sim resolver o máximo de problemas ao mesmo tempo.

Dessa forma, os grupos devem encontrar várias maneiras de descrever a essência do problema que está sendo resolvido de maneira que se concentrem nas relações entre os objetos ou uma descrição mais abstrata da meta (por exemplo, a melhor forma de subir e ter equilíbrio sobre um cavalo). Cada uma dessas descrições ajudará as pessoas a recuperar o conhecimento mais distante do domínio em que o problema está indicado.

2. Busca por solução para cada problema

Seguindo essa linha de raciocínio, a posição dos estribos deve ser simétrica para gerar equilíbrio, a altura deve possibilitar a montagem sem ajuda de outra pessoa, os materiais devem ser resistentes para aguentar o peso do cavaleiro, as tiras de apoio que sustentam devem ser flexíveis para possibilitar “abraçar” o corpo do cavalo, etc.

A resposta só é simples para quem a enxerga superficialmente, daí a genialidade dessa construção. Uma solução simples, inovadora e disruptiva nunca tem uma construção trivial.

3. Pensando fora da caixa

Talvez a maioria de nós olhe no lugar errado para nossas ideias criativas, pedindo às pessoas que "pensem fora da caixa", mas sem direcionar claramente quais os problemas precisam ser resolvidos. Da próxima vez, deve-se olhar para além de diversas caixas distintas, pois cada uma é caracterizada por um problema bem definido e pautada pelas melhores práticas e memórias associadas.

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Gilberto Strafacci Neto

Engenheiro mecânico formado pela Universidade de São Paulo, com mestrado em construção civil e especialização em gestão de projetos, gestão de finanças, administração de negócios, ciência de dados e IA, e mais. Com conhecimento em Master Black Belt em Lean Seis Sigma e Liderança Organizacional.

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