Ainda permanecem muitas desigualdades no país. De acordo com os dados da Pnad de 2014, a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios, 53,6% da população brasileira é negra. Mas a realidade, inclusive no mercado de trabalho, não reflete a mesma proporção no que diz respeito à igualdade de oportunidades. Já na questão de gênero, foi constatado que no ano passado as mulheres receberam em média 74,5% do salário dos homens. É assim no presente, e os índices eram ainda piores no passado. Mas há exemplos que mostram que o cenário pode ser diferente. Enedina Alves é um deles, ela foi a primeira mulher negra a se formar engenheira.
Nascida em 1913, em Curitiba, no Paraná, Enedina Alves Marques foi a primeira mulher negra a concluir o Curso de Engenharia Civil, na década de 40 – e a primeira mulher a receber o diploma de engenheira na região Sul do país. Aos 32 anos, Enedina Alves era a única mulher a se formar na turma de 1945 na Universidade Federal do Paraná, ao lado de 32 colegas homens. No Brasil, até o ano de 1940, apenas quatro mulheres haviam se formado em Engenharia pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
Enedina, quando criança, trabalhou como babá e empregada doméstica. Em 1932, já havia se formado no Instituto Paranaense em magistério, e nos três anos seguintes atuou na rede pública de ensino em diferentes municípios do Paraná, além de dar aulas às crianças que não tinham condições de acesso à escola. Ao retornar para Curitiba, retomou o trabalho em serviços domésticos, aliado ao magistério.
Não são conhecidos com certeza os motivos que levaram Enedina a escolher a Engenharia. Assim que se formou, Enedina se registrou no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Paraná (CREA/PR), e trabalhou como auxiliar de engenheira, fiscal de obras do Estado e como chefe da Divisão de Engenharia da Seção de Estatística do Estado, além de ter participado de projetos como a construção da usina hidrelétrica Capivari Cachoeria e de várias escolas, entre eles o Colégio Estadual do Paraná.
A única menina de uma família de dez irmãos, de origem humilde, e com indícios de ter sido discriminada durante os anos de estudo, é tema de pesquisas de estudiosos como os historiadores Jorge Luiz Santana e Sandro Luís Fernandes. Este último, em parceria com o cineasta Paulo Munhoz, prepara o documentário “A Engenheira”. O trabalho de ambos busca desmistificar a ideia de uma pessoa que venceu pelo esforço, mas sim como um exemplo não isolado na luta pela igualdade, tanto racial, como de gênero.
Em 1981, Enedina faleceu vítima de um ataque cardíaco. O fato foi estampado nos jornais da época de forma sensacionalista. Desde então, sua trajetória ainda não é devidamente reconhecida. Dindinha, como era chamada, é considerada, por quem a conheceu, uma mulher livre, e sua história merece ser conhecida e divulgada.
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Referências: BBC Brasil, Semanário Integração, Monografia – “Rompendo Barreiras: Enedina, Uma Mulher Singular”, de Jorge Luiz Santana.
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Luciana Reis
Formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, com experiência como jornalista freelancer na produção de conteúdo para revistas e blogs.