A radiação ultravioleta apresenta aplicabilidade em várias
áreas da engenharia, principalmente voltada para desinfecção de líquidos e
superfícies. Esta abordagem está sendo aplicada na contenção da pandemia de
COVID-19 e a gente explica:
Como funciona a desinfecção ultravioleta
O mecanismo de desinfecção por radiação UV se baseia em
alterações no material genético dos microrganismos expostos. Isto ocorre por meio
da absorção de energia pelos ácidos nucleicos, prejudicando a multiplicação de células
em geral e vírus.
Mas vamos com calma: é preciso lembrar que radiação UV é a
fração do espectro eletromagnético que abrange os comprimentos de onda abaixo
da luz visível. Ela é subdividida em três tipos:
- UV-A com comprimentos de onda variando de 320 a
400 nm; - UV-B com comprimentos de onda variando de 280 a
320 nm; - UV-C com comprimentos de onda variando de 200 a
280 nm.
A radiação UV-A pode causar alterações nas células da pele,
causando envelhecimento e, similarmente, a UV-B também, além de estar associada
a câncer de pele. No caso da radiação UV-C, existe um efeito ainda mais
intenso, que atua diretamente no material genético das células. A gente precisa
se proteger dela, mas por que não aplicá-la ao nosso favor? É aí que entra a
engenharia.
A radiação UV-C e é utilizada com diferentes finalidades na
Engenharia Química e Civil, por exemplo. Na área de saneamento, a radiação UV
pode ser aplicada em sistemas de tratamento de água ou esgoto, com lâmpadas germicidas,
que emitem radiação UV-C.
A diversidade de microrganismos que a radiação UV é capaz de
inativar, o fato de não utilizar reagentes consumíveis e gerar poucos
subprodutos, além de não haver gosto ou odor residuais tornam seu uso atraente
na desinfecção. Além disso, trabalhando com lâmpadas, é possível criar vários
arranjos compactos para usos específicos.
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Aplicações voltadas para combate à pandemia de COVID-19
Dentre esses arranjos específicos, vejam só a demanda: a pandemia de coronavírus em si.
No Canadá, a faculdade de Engenharia da Universidade de
Waterloo está consultando hospitais e colaborando com uma empresa para produção
emergencial de equipamentos para desinfetar respiradores N95 usando
luz UV. Essa medida poderá permitir o reuso das máscaras que vem sendo
altamente demandadas na pandemia de COVID-19.
Na China, pensando em acelerar e otimizar a desinfecção de superfícies, o transporte público teve sua limpeza regular substituída pelo uso de lâmpadas de UV germicida.
Ainda nesse cenário, mas aqui no Brasil, uma das ações aplicando desinfecção por radiação UV partiu da Universidade de São Paulo, a USP, através do Instituto de Física de São Carlos (IFSC). O IFSC cedeu à Santa Casa da Misericórdia de São Carlos dois Rodos UV-C para a descontaminação de pisos. Esses dispositivos foram projetados no próprio IFSC e tem a finalidade de descontaminar superfícies de área relativamente grande.
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Essa fonte de luz UV-C vem sendo testada com outras finalidades, dentre as quais a descontaminação completa de órgãos humanos para transplante, abordagem que já foi divulgada em um artigo científico na gigante Nature, o que deixa a gente com muito orgulho da ciência nacional.
Fontes: France 24. uWaterloo. USP.
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Kamila Jessie
Doutora em Hidráulica e Saneamento pela Universidade de São Paulo (EESC/USP) e Mestre em Ciências pela mesma instituição; é formada em Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) com período sanduíche na University of Ottawa, no Canadá; possui experiência em tratamentos físico-químicos de água e efluentes; atualmente, integra o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF) do Instituto de Física de São Carlos (USP), onde realiza estágio pós-doutoral no Biophotonics Lab.